segunda-feira, 27 de junho de 2016

‘Brexit’ vence e Reino Unido deixará a União Europeia

A maioria dos cidadãos do Reino Unido votou por abandonar a União Europeia no histórico referendo celebrado nesta quinta-feira. O Brexit recebeu 51,9% dos votos, enquanto 48,1% votaram pela permanência no bloco. A decisão dos britânicos desencadeia uma histórica queda da libra esterlina e das bolsas europeias, e coloca a União Europeia diante de um desafio sem precedentes e o Reino Unido em um território ainda desconhecido. Inglaterra e Gales apoiaram majoritariamente o Brexit (saída da UE), enquanto Londres, Escócia e Irlanda do Norte optaram pela permanência. Diante da crise iniciada no país, o primeiro-ministro, David Cameron, anunciou que deixará o seu cargo depois do congresso de seu partido em outubro.


A mensagem dos riscos econômicos do rompimento, repetido à exaustão pelo establishment político, não encontrou eco junto aos eleitores britânicos, especialmente no norte da Inglaterra. A histórica decisão, com uma participação extraordinária de 71,8% (30 milhões de pessoas), fere enormemente o projeto europeu e infla o movimento contra o establishment político que há anos cresce no continente. Lá se vai a segunda maior economia do bloco, ao qual os britânicos pertencem há 43 anos, e que agora mergulha num desafio sem precedentes. A tarefa, para o lado britânico, será assumida por outro chefe de Governo, já que David Cameron anunciou sua futura renúncia numa entrevista coletiva concedida pouco depois das 8h (4h em Brasília) na sua residência oficial da Downing Street.

Outro líder envolvido na campanha do referendo, o trabalhista Jeremy Corbyn, principal referência da oposição e partidário da permanência, também falou à imprensa, mas evitou pedir a demissão de Cameron, de quem cobrou prioridade nas tarefas de “estabilizar a libra e assegurar os investimentos” após o referendo. Os primeiros efeitos do chamado Brexit  apareceram justamente nos mercados. O valor da libra esterlina – que subia desde segunda-feira, refletindo as pesquisas que indicavam a permanência na UE – desabou ao seu menor nível desde 1985. As perdas acionárias se estenderam por toda a Europa, depois da forte queda registrada nos pregões asiáticos. Na Espanha, o índice de referência registrava no final da manhã (hora local) um retrocesso de aproximadamente 7%.A negociação com a UE, disse Cameron em um breve pronunciamento ao lado da sua mulher, Samantha, ficará a cargo de outro "capitão". Esse novo primeiro-ministro, observou o líder dos conservadores, terá de se valer do artigo 50 do tratado da UE, que estipula as condições para deixar o clube. Nigel Farage, líder do partido independentista UKIP e um dos pais do referendo do Brexit, manifestou-se logo cedo sobre a renúncia de Cameron. Com o escrutínio resolvido, Farage – que durante a madrugada já havia declarado o 23 de junho como o “dia da independência” britânica – pediu ao Palácio de Westminster (sede do Parlamento) que substitua Cameron por um Executivo que seja partidário da desfiliação.

O primeiro sinal de que o rompimento com a UE venceria veio com a apuração de Newcastle, dando uma vitória muito apertada ao remain. Depois o leave ganhou em Sunderland, tradicional reduto trabalhista. Os primeiros resultados em Londres devolveram a esperança aos europeístas, até que Nuneaton, prototípica cidade da Inglaterra média, deu 66% para a saída. Na Escócia, venceram os pró-UE, embora com menos participação do que se esperava. Bristol apoiou claramente a permanência no bloco.

INTERACTIVO
O resultado, com 51,9% pelo desligamento e 48,1% pelo status quo, mostra um país dividido, que terá muitas dificuldades para se recuperar após o plebiscito. Além disso, deixa uma situação complicada na Escócia, que votou majoritariamente pela permanência (63%). A líder do Partido Nacionalista Escocês, Nicola Sturgeon, já havia advertido que, caso o rompimento com a UE vencesse, os escoceses poderiam convocar um novo referendo sobre a sua independência do Reino Unido, como já ocorreu há dois anos, com apertada vitória pela integração. Mas o momento para isso agora é muito mais complexo, a situação econômica está pior e o apoio à independência decaiu. Ainda assim, o desejo escocês de se manter na UE – da qual estão sendo expulsos pelos votos dos vizinhos ingleses – pode alterar o quadro.
A decisão também abre um horizonte desconhecido para a ilha da Irlanda, onde o Reino Unido faz fronteira com outro país da UE, a República da Irlanda. A Irlanda do Norte votou majoritariamente pela permanência, posição que teve o apoio do primeiro-ministro do vizinho do sul, Enda Kenny. Com o Brexit, a Irlanda ficará sem uma fronteira terrestre com a União Europeia.

Nos distritos ingleses de Hastings e Lancaster, que costumam servir de termômetro para prever resultados eleitorais, a saída britânica da UE também venceu, de forma apertada. Os resultados avançavam mais lentamente do que se esperava, mas num bom ritmo para os partidários do leave. Mas em alguns momentos, os dois lados disputavam apenas 80.000 votos. Quando alguns redutos europeístas foram totalizados – como Oxford e Cambridge –, o voto pró-UE chegou a estar na frente. O mesmo aconteceu com Aberdeen, segunda cidade mais pró-UE, onde essa opção teve 61% dos votos.
Ainda falta que a autoridade eleitoral declare oficialmente o resultado do referendo do Brexit, o que está previsto para acontecer ainda nesta manhã de sexta-feira. Então, o Reino Unido começará a trilhar um longo caminho, para o qual não existe mapa



quarta-feira, 8 de julho de 2015

SALVEM O RIO CACHOEIRA!

O Rio Cachoeira pede socorro, e já faz muito tempo! A urbanização em Itabuna-BA intensificou os problemas ambientais relacionados a degradação, juntamente com os dejetos industriais, além da destruição da Mata ciliar que assoreia o rio.
A cidade de Itabuna-BA sofre com o precário abastecimento de água atualmente, entretanto, esse cartão postal e de grande relevância para região, não consegue efetivar as políticas públicas para reduzir os impactos no mesmo.
Os Alunos do Colégio Sistema Abraçaram essa causa e fizeram uma paródia para lembrar a população e os governantes que ainda é um rio muito importante e que necessita de ajuda.

Salvem o Rio Cachoeira!

domingo, 8 de fevereiro de 2015

TRANSPORTE PÚBLICO GRATUITO? A CIDADE DE MARICÁ-RJ DISSE SIM!

De Maricá (RJ)
A catraca, símbolo maior da cobrança de tarifa no transporte público brasileiro, continua lá para registrar o número de passageiros. Mas a cadeira do cobrador agora está vazia. Ninguém precisa pagar mais. É assim desde 18 de dezembro do ano passado em Maricá, município fluminense na Região dos Lagos. Há pouco mais de um mês, a prefeitura local fundou a Empresa Pública de Transportes (EPT) e instituiu o passe livre para todos. O objetivo, o prefeito Washington Quaquá (PT-RJ) admite, é “quebrar o monopólio” das empresas que detêm o serviço há pelo menos 25 anos na cidade.
Primeiro município brasileiro com mais de 100 mil habitantes a oferecer ônibus gratuito, Maricá é palco de uma verdadeira queda de braço entre o poder público e os empresários de transporte. Isso porque a implantação da tarifa zero se deu ao mesmo tempo em que as duas empresas privadas de transportes da cidade continuam tendo concessão para operar com cobrança de passagem. Por isso, desde o fim do ano passado, os usuários têm à disposição tanto os ônibus que cobram tarifa, com valor mínimo de 2,70 reais, quanto os gratuitos, da Prefeitura de Maricá, sendo que ambos fazem trajetos semelhantes.
“Nós estamos quebrando um monopólio de uma família sobre um setor econômico da cidade”, afirma o prefeito ao citar a maior empresa da região, a Viação Nossa Senhora do Amparo, que há mais de 40 anos controla tanto o transporte municipal quanto o intermunicipal. A outra empresa é a Costa Leste que, apesar de menor, já possui concessão há 25 anos. Quaquá não esconde que a sua briga é mesmo com a Viação Amparo. “Eles eram os donos da cidade. Quando eu saí de uma favela de Niterói com nove anos de idade e vim morar aqui, eles eram os coronéis. Mandavam, desmandavam, matavam, só não faziam viver”, acusa o petista. “Eles financiaram meus adversários. Então, a primeira vez que um prefeito rompeu com o monopólio deles foi quando ganhei a eleição. (...) Já era para eles”, diz sem hesitar.
No cargo desde 2008, Quaquá é um dos fundadores do PT na cidade e o atual presidente estadual do partido no Rio de Janeiro. Conhecido por ser de uma corrente mais à esquerda, Quaquá fez parte da sua campanha eleitoral focando na disputa com os empresários do transporte. “Maricá é bonita demais para ser controlada por uma empresa de ônibus”, dizia o slogan político. “Essa Constituição estabelece que transporte é serviço público que pode, pode [repete] ser concedido.  A lógica de Maricá é a seguinte: o serviço será público e gratuito”, garante.
Após conquistar a reeleição, Quaquá colocou a proposta em prática. Impossibilitado de romper os contratos de concessão com as duas empresas de transporte da cidade, já que ambos foram renovados em 2005, com duração até 2020, o prefeito começou os estudos para criar uma empresa com tarifa popular. O objetivo era iniciar a operação com passagem em torno de dois reais para, progressivamente, reduzir até a tarifa zero. Mas a ideia esbarrou em entraves jurídicos. A solução foi fundar uma autarquia municipal e implantar a tarifa zero desde o início.
De onde vem o dinheiro?
Depois da criação da autarquia, a prefeitura investiu aproximadamente 5 milhões de reais, comprou dez ônibus e contratou 29 motoristas por meio de concurso público, em caráter temporário, por 12 meses. No total, a EPT já tem 90 funcionários, que trabalham exclusivamente para o funcionamento das quatro linhas de ônibus. Os veículos atendem do bairro Recanto à Ponta Negra, nas extremidades do município, 24 horas por dia e nos finais de semana. Todos os veículos comprados pela cidade têm ar condicionado e elevador para deficientes físicos nas portas.
“Nós vamos comprar mais 20 ônibus, provavelmente ônibus elétricos, sem emissão de carbono, que funcione a energia solar”, explica Quaquá. Os recursos para manter todo esse sistema são provenientes da verba que o município tem direito em função dos royalties do petróleo. No ano passado, por exemplo, Maricá recebeu repasses que totalizaram 220 milhões de reais, segundo o Portal da Transparência da cidade. 
Em um mês de funcionamento, com os dez ônibus, a operação custou aproximadamente 700 mil reais, mas a ideia é que o gasto suba para 1,5 milhão de reais por mês, quando a empresa tiver capacidade de concorrer com as empresas privadas. Isso porque o objetivo é que Maricá tenha autonomia para garantir o transporte dos moradores independentemente de concessão.
O plano de Quaquá provocou uma reação imediata dos empresários. Menos de dez dias depois de os ônibus começarem a circular pelas ruas de Maricá, as empresas deram entrada em uma liminar na 5ª Vara Civil da Comarca de São Gonçalo para impedir o funcionamento da Empresa Pública de Transportes (EPT). O pedido não foi aceito pela Justiça.
Os empresários reclamam pois a prefeitura não paga o subsídio previsto em contrato desde que Quaquá assumiu o cargo, há sete anos. Pelo documento, as empresas Costa Leste e Viação Amparo devem receber da Prefeitura de Maricá o valor da passagem de cada usuário com direito à gratuidade (estimado em 120 mil pela Costa Leste), como idosos e estudantes de escola pública. “Não pago nada”, diz o petista. “Esses dias eu vi que eles estão cobrando na Justiça 13 milhões de reais. Você imagina: com esse dinheiro eu garanto dois anos de empresa gratuita para todos. Eles estão acostumados com poder público que não controla, não fiscaliza. Agora nós temos a planilha e estamos abrindo a planilha”, enfatiza.
Ônibus gratuito
Em guerra declarada, Maricá usa ônibus gratuito (vermelho) contra empresas de ônibus, que cobram 2,70 reais de tarifa (Foto: Adriano Marçal)
Além da guerra judicial, o prefeito ainda aprovou no ano passado uma lei que mudava o nome da rodoviária da cidade. Até então, o local era conhecido como Terminal Rodoviário Jacintho Luiz Caetano, em referência justamente ao nome do fundador da Viação Amparo. Quaquá renomeou o local para “Terminal Rodoviário do Povo de Maricá". O busto de Caetano que ficava na entrada do terminal ainda foi removido e devolvido para a família. 
A opinião da população
CartaCapital acompanhou por dois dias o funcionamento e a circulação dos ônibus gratuitos da cidade. Apesar de ter anunciado ônibus de 20 em 20 minutos, os dez veículos da Prefeitura de Maricá que estão em circulação ainda não conseguem cumprir a mesma pontualidade das empresas privadas, todos os dias. Quando alguns motoristas estão de folga, o tempo de espera pode levar de 40 minutos a uma hora.
“Gratuito é bom para o povo, né. Acho que tinha que ter mais [ônibus]. Por um lado é gratuito, mas, por outro, a gente tem que ficar esperando meia hora, 40 minutos”, alerta o segurança Diego Silva, de 27 anos.
A explicação, segundo o presidente da EPT, Luiz Carlos dos Santos, é o tamanho da cidade. Apesar de ter aproximadamente 127 mil habitantes, Maricá tem uma extensão de 363 quilômetros quadrados. O município é maior, por exemplo, do que cidades como Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, com uma população de mais de 1,2 milhão de pessoas. E o dobro do tamanho da vizinha Niterói (RJ), que tem quase 500 mil habitantes. Por conta disso, os ônibus gastam aproximadamente 1h30 para fazer todo o percurso e voltar para a rodoviária da cidade. Segundo Santos, a tendência é que a circulação se normalize com a chegada dos novos ônibus.
Mas, mesmo com a demora em alguns dias da semana, os usuários fazem fila para esperar o “Vermelhinho”, como já ficou conhecido o ônibus gratuito em função de sua cor (os ônibus da Costa Leste e da Viação Amparo são pintados em tons de azul). Na última terça-feira 27, por exemplo, a reportagem contou 27 pessoas à espera de uma linha sentido Ponta Negra, a área turística da cidade, e outras 21 pessoas na fila para embarcar para o bairro de Itaipuaçu, por volta das 15h, na rodoviária. No mesmo horário, o ônibus da Costa Leste que faz trajeto parecido e cobra 2,70 reais aguardava vazio o embarque de passageiros. A Costa Leste admitiu que a medida vem tendo “grande impacto” no número de usuários do sistema, mas não deu mais informações. A Viação Amparo não retornou os pedidos de entrevista da reportagem.
Fila do ônibus gratuito
Enquanto usuários fazem fila para usar o ônibus gratuito (vermelho), veículo da empresa Costa Leste (azul) aguarda por passageiros na rodoviária (Foto: Renan Truffi)
“Para a gente foi muito útil, as passagens aqui em Maricá são muito caras. Para um trecho curtinho, você já paga três reais para ir e três reais para voltar. Por exemplo, um casal e duas crianças, você já vai pagar um preço absurdo. Tem família aqui que não conseguia ir à praia porque não tinha condições de pagar um ônibus. Com esse dinheiro já dá para comprar um pão, ou um leite para as crianças”, conta a dona de casa Marilza Marques, de 63 anos, durante uma das viagens.
Desde que começou a operar, em pouco mais de um mês, os ônibus gratuitos já transportaram mais de 200 mil passageiros. A Prefeitura de Maricá estima que já esteja atendendo 70% da população. A gratuidade fez até com que moradores de cidades vizinhas pudessem começar a frequentar as praias de Maricá. “Onde a gente mora é supertranquilo. Agora começou a vir um povo de São Gonçalo para as praias. Eles não consomem nada. O pessoal do quiosque reclama também”, critica uma professora que não quis se identificar, enquanto espera o ônibus gratuito.
A Prefeitura espera ainda que o dinheiro, antes aplicado na passagem, comece a ser injetado no comércio da região. Como o ônibus funciona também de madrugada, as lojas próximas à rodoviária passaram a estender o horário de atendimento. “É um retorno que a prefeitura vem dando para o povo. O povo não ganha nunca nada. Agora tem ar condicionado, serviço de qualidade”, conta o empresário Luiz Carlos Souza. “Eu estou economizando esse dinheiro para fazer um sacolão”.
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/marica-a-cidade-do-passe-livre-4100.html 

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

POR QUE EU NÃO SOU CHARLIE! (Je ne suis pas Charlie)

Nada justifica o massacre na redação do jornal Charlie Hebdo, mas algumas generalizações e relativizações na cabeça da sociedade são tão perigosas quanto kalashnikovs na mão de fundamentalistas.

O caso Charlie Hebdo levantou grandes discussões. Há políticos, instituições, governos, jornalistas e comentaristas de Facebook de todas as estirpes falando sobre o assunto em tribunas, periódicos e mesas de bar. Todos são unânimes em condenar a brutalidade dos ataques, porém as divergências de opinião são maiores do que as concordâncias.

Enquanto muitos discursos falam sobre o perigo da amplificação do ódio contra comunidades muçulmanas na França e ao redor do mundo, não faltam aqueles que de pronto condenem a “selvageria e brutalidade” da religião islâmica e dos povos árabes, engrossando as fileiras de fundamentalistas nacionalistas que organizam marchas xenófobas contra a “islamização da Europa”, a favor das intervenções militares criminosas dos estados ricos do Ocidente nos países do Oriente Médio e África e respaldando o racismo que tornou possível e aceitável a longa série de políticas coloniais e práticas exploratórias que sustentaram a economia e poder da França desde que esta se tornou um Estado-Nação.

Entretanto, não quero falar agora sobre as divergências de opinião, e sim sobre o consenso, expresso no slogan “Je suis Charlie” (“Eu sou Charlie”), que inundou as redes sociais e capas de jornais ao redor do planeta. O slogan é atrelado à ideia de que o que ocorreu ontem na França implica um atentado contra a liberdade de imprensa e valores democráticos ocidentais; implica dizer que toda imprensa é livre pra publicar irresponsavelmente qualquer conteúdo; implica dizer que o direito de zombar de uma religião é o mesmo que lutar pelo estado laico; e implica, principalmente, que o ataque foi simplesmente resultado do extremismo (ou da falta de senso de humor) religioso diante de uma critica “ácida e sagaz”, excetuando-se todo o contexto de marginalização e discriminação da comunidade muçulmana na França. Principalmente, implica ignorar à que se propõe e quais os efeitos dessas charges no contexto político-ideológico de um país com níveis alarmantes de racismo.

O argumento mais comum que encontrei nas redes sociais e comentários de jornais on-line é o de que o Charlie Hebdo fazia charges ofensivas sobre todas as religiões, e que, portanto, se cristãos conseguem ver charges com Jesus e levar como uma piada, então, muçulmanos também deveriam. Esse é um argumento raso, porque coloca no mesmo patamar a situação das comunidades muçulmanas e das comunidades cristãs na Europa, ao mesmo tempo que reforça a ideia de superioridade ocidental racionalista. É o mesmo simplismo de quem diz que chamar um branco de “palmito” tem o mesmo peso de chamar um negro de “macaco”. Não é só uma piada.

A quem serve a islamofobia?

No dia anterior ao massacre de Charlie Hebdo aconteceram duas marchas na Alemanha: uma pela expulsão de árabes e muçulmanos do país e outra contra o discurso xenófobo da direita ultranacionalista alemã. Esse tipo de manifestações populares contra minorias étnicas fica cada dia mais comum em toda a Europa, e a França, sempre avant-garde, é um dos maiores focos de marchas e movimentos racistas, machistas e xenófobos na Europa.

Na França a “Questão Muçulmana” é uma obsessão prioritária dos grupos de direita. O jornalista Edwy Planel, autor do livro “Pelos Muçulmanos” (título dado em alusão ao artigo “Pelos Judeus”, escrito por Emile Zola sobre o caso Dreyfus) aponta os ataques à comunidade muçulmana como sendo a principal plataforma de discurso eleitoral na França de hoje.

Nicolas Sarkozy é um exemplo claro da presença do discurso racista na política francesa. Podemos citar seu discurso na Universidade de Dakar, em julho de 2007, quando disse:

“O drama da África é que o homem africano não entrou totalmente na história. O camponês africano, que desde milhares de anos vive conforme as estações, cujo ideal de vida é estar em harmonia com a natureza, só conhece o eterno recomeço do tempo ritmado pela repetição sem fim dos mesmos gestos e das mesmas palavras. Nesse imaginário onde tudo recomeça sempre, não há lugar nem para a aventura humana, nem para a ideia de progresso. Nesse universo onde a natureza comanda tudo, o homem escapa à inquietude da história que inquieta o homem moderno. Mas o homem permanece imóvel no meio de uma ordem imutável, onde tudo parece ser escrito antes. Nunca ele se lança em direção ao futuro. Nunca não lhe vem à ideia de sair da repetição para se inventar um destino”.

Vamos lembrar que quando fala do “homem africano” (como se todos os povos de África fossem um único grupo homogêneo) Sarkozy alude especialmente à população muçulmana, uma vez que a França invadiu e colonizou a Argélia e o Marrocos, de onde vêm a maior parte dos imigrantes islâmicos da França.

Atualmente vem ganhando muito espaço ideológico o partido de extrema direita Frente Nacional, cuja principal voz é Marine Le Pen, famosa pelo discurso islamofóbico e pelas políticas anti-imigração. Le Pen, forte candidata para as próximas eleições presidenciais, declarou hoje, no embalo do ataque de ontem, que “a França está sendo atacada”, e aproveitou para reforçar sua proposta de instaurar a pena de morte no país.

O professor Reginaldo Nasser aponta, em artigo publicado ontem, pra o perigo do uso do caso Charlie para fortalecer as políticas ultranacionalistas francesas: “Há de fato uma situação conturbada na França e que vai piorar a partir de agora, os preconceitos com os imigrantes podem aumentar e reforçar um sentimento nacionalista. Le Pen é a representante de um pensamento xenófobo no país. Mas temos que esperar ainda pra ver quais serão dos desdobramentos quando se descobrir os culpados”.

Portanto, a mobilização massiva criada em torno do slogan "Je suis Charlie", se for ausente de uma crítica séria sobre a situação dos muçulmanos na Europa e as razões da islamofobia na França, tende a ser apenas combustível para a xenofobia e os partidos ultraconservadores.
A quem serve a liberdade de expressão?

Aqueles que ostentam orgulhosos o slogan “Eu sou Charlie” se dizem advogar pela liberdade de expressão, porém não questionam o que significa essa liberdade de expressão, tampouco quem tem direito a essa liberdade. Ninguém se preocupa com a censura à liberdade de expressão religiosa islâmica na França.

Em 1989, o jornal Le Nouvel Observateur publicou uma capa contra o uso do hijab, o véu muçulmano, nas escolas. Isso levou a uma discussão que culminou na lei de 2004 proibindo que meninas islâmicas usando lenços frequentassem as aulas, e desde 2011 há uma circular do Ministério da Educação recomendando que se impeça a presença de mães usando hijabs na área em torno dos colégios. Nunca houve proibição do uso de crucifixos ou camisas com slogans cristãos. A esquerda francesa (e a maior parte da esquerda ocidental) se mostrou favorável a esta lei ou, na melhor das hipóteses, silenciou sobre ela, sob o pretexto da defesa do Estado Laico. Esquecem-se que o laicismo serve para preservar o direito à liberdade de exercício de pensamento religioso ou à liberdade de não exercer nenhuma crença religiosa. E esquecem-se de que o islã não é apenas uma crença religiosa, mas também um referencial de identidade de toda uma comunidade historicamente oprimida, remetendo à questões religiosas, culturais, étnicas e políticas.

Proibir a expressão de sua religião é censura. Proibir a expressão de sua identidade cultural é eugenia. Imaginem, por exemplo, uma lei brasileira proibindo o uso de turbantes e símbolos da Umbanda e Candomblé em áreas públicas. Seria uma conquista do estado laico ou (mais) um ataque às crenças afro-brasileiras?
Na esteira das liberdades de expressão negadas pelo governo francês intrinsecamente conectadas ao Islã está a abominação legislativa sancionada no ano passado, quando a França tornou-se o primeiro país do mundo a proibir manifestações de apoio à Palestina, durante os bombardeios israelenses à Faixa de Gaza, que assassinaram 1.951 pessoas e feriram 10.193 civis. Qualquer pessoa que participasse de um protesto contra os crimes de guerra de Israel, práticas de Terrorismo de Estado respaldadas ideologicamente por políticos e formadores de opinião entre a população israelense através de fundamentalismo nacionalista e argumentos de fundamentalismo religioso judaico e islamofobia, seria preso por um ano ou pagaria multa de 15 mil euros. Se o manifestante cobrisse o rosto durante o protesto, a pena subia pra três anos de detenção.

Cabe ressaltar aqui que não sei qual foi o posicionamento do jornal Charlie Hebdo sobre esse caso em particular, mas certamente a comunidade internacional não se manifestou tão passionalmente sobre o direito dos franceses à liberdade de expressar apoio aos palestinos.

Então, cabe a pergunta:

A quem faz rir o humor de Charlie Hebdo?

Não existe piada sem um alvo, e o senso de humor tem poder político por natureza. Piadas podem ser um meio de contestação ou de sedimentação do senso comum, do status quo dominante. Quando um humorista faz uma piada racista, está endossando o racismo de quem ri, criando no riso um lugar seguro pra que os estereótipos racistas cresçam, legitimando ignorância e raiva, disfarçados de senso de humor. As pessoas formam suas concepções de mundo, de certo e errado, de verdade e justiça, muito mais através de piadas e slogans simplistas do que de resoluções da ONU e tratados de sociologia.

Lembro-me que, quando era criança, meu pai comprava livros de piadas em bancas de jornal e passava o dia atormentando minha mãe com piadas machistas sobre loiras burras e mulheres caricaturadas da pior forma possível. Eram sessões ininterruptas de ofensas, mas que ela ouvia com um sorriso amarelo, uma vez que “era só piada”. Da mesma forma, ele contava as piadas mais ofensivas possíveis sobre negros, sempre respaldadas pelo fato de que “não era o que ele pensava”, e sim “só o que estava escrito nos livros de piada”. Foram anos desse tipo de piada “inocente”, até o dia em que, sem tom de piada ou riso suave, ele me proibiu de namorar mulheres negras.

É muito comum que se veja, no Brasil, “humoristas” como Danilo Gentili e Rafinha Bastos, vindos de uma mesma escola de racismo, machismo e homofobia que geraram o riso bobo de Costinha e Renato Aragão, defenderem seu direito de ser promover discurso de ódio como se isso fosse “liberdade de expressão”. E, mais triste ainda, é muito comum ver a população brasileira defendendo essa “liberdade” de humilhar, ofender e sedimentar preconceitos contra minorias, sob o rótulo falsamente liberal (e bastante estúpido) de “politicamente incorreto”. Muitas vezes eles dizem que estão fazendo humor político, “expondo o racismo” ao fazer piadas racistas. Esse é um argumento preguiçoso e altamente hipócrita pra manter seu direito de ser um racista alegre e ainda posar de Voltaire do Facebook.

O humor das charges do jornal Charlie Hebdo está na mesma esteira de qualquer senso de humor racista. Os defensores do “Je suis Charlie” não cansam de dizer que são a revista é o Pasquim Francês. Dizem que as caricaturas são ácidas e corajosas, atacando todas as religiões e expondo a homofobia e o fundamentalismo do islã. Porém, o que as caricaturas de Mohammad fazem é respaldar o ódio e a ignorância sobre o islã, as comunidades muçulmanas francesas e os povos árabes.

Na caricatura em que o profeta Mohammad aparece beijando um cartunista branco não há contestação nem levantamento de discussão. Não é um canal de diálogo com as comunidades muçulmanas para contestar as posturas homofóbicas da religião e de suas muitas multiculturais comunidades ao redor do mundo. É apenas um desenho de um homem branco europeu beijando o símbolo máximo de uma religião pertencente a outro povo. Não é assim que se levanta um debate, não é assim que se dialoga e não é assim que se contesta. Tudo o que a caricatura faz é zombar do Islã (cuja crença considera ofensivo representar graficamente seu profeta), cortar os possíveis canais de discussão com a comunidade que criticam e aumentar os preconceitos dos franceses islamofóbicos, que assim se sentem superiores aos seus vizinhos islâmicos. Não é um discurso que contesta a homofobia das comunidades islâmicas, e sim uma agressão que contesta a legitimidade de uma comunidade marginalizada e que não dá voz essa comunidade. Esse tipo de agressão só torna mais difícil que a sociedade em geral ouça aos muçulmanos que buscam combater o discurso conservador dentro da sua religião a despeito de professarem sua fé.
Em outra caricatura, um muçulmano segura um Corão enquanto balas atravessam o livro e o seu corpo. A legenda diz “O Corão é uma merda”. Isso não levanta debate nenhum, apenas diz “sua religião é uma merda”, o que implica dizer, no caso, “sua sociedade muçulmana, sua história muçulmana, seus parentes e crenças muçulmanas, são uma merda”.


As caricaturas da Hebdo retratam muçulmanos como sendo terroristas, estúpidos e perigosos. As pessoas se acostumam a pensar nessas imagens quando pensam em muçulmanos, e isso gera medo, ódio, deboche e xenofobia. Eu, enquanto estudante de língua árabe, perdi a conta de quantas vezes ouvi tanto piadas imbecis quanto preocupações sérias de meus amigos que pensavam que eu vivia uma terra de selvagens e fundamentalistas perigosos.

Esse tipo de humor raso e infantil não é razão para que se assassinem seus perpetradores. Eu não defenderia que militantes feministas armadas invadissem o Comedians e assassinassem Rafinha Bastos. Ainda assim, elas têm todo o direito de se sentir ultrajadas, agredidas e ofendidas quando ele usa seu poder de discurso para convencer sua plateia de que mulheres feias devem ser estupradas e ficar agradecidas pela “caridade”. Mais importante, é preciso ter em mente que, sendo elas o grupo diretamente atingido pelas piadas infelizes dele, é a elas que a sociedade deve ouvir. Não me cabe o direito de julgar se uma mulher pode ou não se sentir ofendida com uma piada machista, e não me cabe dizer se um muçulmano deve se sentir ultrajado por uma piada islamofóbica, porque existe todo um contexto social por trás dessas piadas que eu não compreendo e do qual eu não sou a vítima.

Acreditar que as reações de muçulmanos às caricaturas são simples extremismo é dizer que “é só uma piada”. Não é. A reação tem a ver com todo o contexto de discriminação social e econômica, às humilhações diárias que essa população sofre nos países europeus, à invisibilidade de sua identidade, ao histórico colonial e também com as atuais politicas intervencionistas dos países ocidentais no Oriente Médio e África, que se negam a ouvir as vozes árabes e africanas enquanto financiam grupos extremistas e assassinam populações civis com drones e “democracias”.

Um relatório do Observatório Europeu do racismo e xenofobia aponta que, na França, a chance de alguém de origem árabe/muçulmana conseguir um emprego é cinco vezes menor do que um caucasiano com as mesmas qualificações. Além disso, eles possuem menos acesso à educação formal, vivem nas áreas mais sucateadas das cidades e estão sujeitos a todo tipo de descriminação e violência física. O relatório aponta o sentimento de desespero e exclusão social do jovem muçulmano, que vê sua possibilidade de progressão social dificultada por racismo e pela xenofobia.

O massacre que ocorreu na quarta-feira foi um crime horrível de terror e silenciamento, cometido por alguém que não sabemos ainda quem é (e nada impede que seja uma operação de false flag) nem com qual intenção. Um crime horrível e abominável, como foram horríveis e abomináveis os crimes de terror e silenciamento promovidos pelo Mossad quando assassinou o cartunista Naji Al-Ali, ou quando Bashar Al-Assad mandou quebrar as mãos do cartunista Ali Ferzat, ou todos os dias quando a polícia militar de Geraldo Alckmin, aterroriza e assassina os jovens que imprimem sua crítica e revolta com latas de spray nas paredes da minha cidade. Todos são crimes horríveis de silenciamento, e todos devem ser condenados, mas cada um tem suas particularidades, razões e contextos próprios e únicos, e não podemos cair no erro de diluir nossa crítica no simplismo maniqueísta, ou corremos o risco de que a voz que queremos dar à democracia seja um megafone para os absurdos da teoria de "choque de civilizações" de Huntington.

Por tudo isso, eu não sou Charlie.

(*) Plínio Zúnica é estudante de Língua e Literatura Árabe da Universidade de São Paulo. Esteve duas vezes nos Territórios Ocupados da Palestina, onde trabalhou como corrdenador da Educacional Network for Human Rights in Palestine/Israel. Atualmente vive no Cairo. Texto originalmente publicado no blog Descolonizações.

Fonte: http://www.brasil247.com/pt/247/mundo/166161/Porque-eu-não-sou-charlie.htm  

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Racismo nos EUA, no Brasil e no mundo: “O corpo negro habita a zona da morte.”


Jovem, negro, nordestino, migrante e morador das periferias da baixada santista, onde o índice de assassinatos promovidos por policiais e milicianos é dos mais altos do estado de São Paulo. Na contramão dos desejos juvenis, dedicou-se aos estudos em um cursinho pré-vestibular comunitário. Chegou à universidade. Formou-se em Jornalismo. A partir da ação política dos cursinhos, conquistou bolsa para mestrado nos Estados Unidos. Emendou um doutorado e se tornou um especialista sobre a questão racial nas Américas. Hoje, Jaime Amparo Alves é PhD, pesquisador visitante do Africana Research Center, Penn State University (EUA) e investigador associado do Centro de Estudios Afrodiasporicos (Universidad Icesi). É como um militante do movimento negro brasileiro, contudo, que Jaime descreve o levante negro que tomou as ruas de diversas cidades norte-americanas desde o assassinato do jovem negro Michael Brown. Vale a pena ler . E revoltar-se.

Hesitei em escrever sobre o assassinato de Michael Brown, em Ferguson, no estado do Missouri, no ultimo dia 9 de agosto.  Não há nada de novo nas imagens televisivas de um jovem  negro de 18 anos abatido a tiros nas ruas de uma cidade onde quer que seja. Afinal, enquanto Brown era assassinado em Ferguson, no sul do continente outros jovens negros encontravam a morte nas mãos da polícia militar.

Do outro lado do Atlântico, a comunidade negra relembrava o Massacre de Marikana, quando em 16 de agosto de 2012 a polícia sul-africana assassinou 34 trabalhadores negros que protestavam por melhores salários. Estas e tantas outras mortes que ainda virão são a reiteração de uma “verdade racial” que não deixa dúvidas sobre  o lugar do corpo negro em “nossas” sociedades.

Talvez tenha sido Franz Fanon quem tenha melhor articulado em palavras a impossibilidade negra no mundo social. Para ele, nós negras e negros habitamos uma zona chamada “a zona do não-ser”. Somos,  por assim dizer, civilmente/socialmente mortos e é essa morte ontológica (a impossibilidade de sermos reconhecidos/as como parte da comunidade humana) o que faz possível a existência civil branca. Não é estranho, portanto, que a solidariedade na luta antirracista quase sempre resvala na impossibilidade branca de pensar no que Fanon chamou de “exclusividade recíproca”. Em suas palavras: “não é possível reconciliação porque, dos dois termos [o branco e o negro] um é supérfluo” (1963, 39). Qual?

Deixo para outra ocasião a questão da cumplicidade branca com a morte negra, um incisivo campo teórico – me vem a mente o inovador trabalho de Lourenço Cardoso – que tem se ocupado disso mostrando como os brancos lucram com suas identidades. Vou me ater a outro aspecto: a (im)possibilidade de resistir a violência do estado racial. Desde o sábado, quando Michael Brown foi assassinado, os Estados Unidos têm registrado revoltas urbanas que lembram os protestos “violentos” de Los Angeles, em 1992, quando as câmeras de vídeo flagraram policiais espancando um jovem negro nos subúrbios da cidade.

As revoltas nas cidades estadunidenses são um lembrete da ausência de espaço político para a questão negra dentro da chamada sociedade civil. Os canais tradicionais de manifestação aqui e lá não dão conta de responder aos desafios das pessoas negras. Na verdade, eles parecem parte do problema. Neste sentido, os protestos pacíficos dos brancos progressistas, e daqueles negros que conseguiram um “lugar” ao sol, se contrastam com as furiosas demonstrações de “basta” de uma juventude encurralada nos guetos.

Vale sublinhar o outro lado da América de Barack Obama: são pelo menos 2 milhões de pessoas encarceradas.  Em muitos dos subúrbios, há mais homens negros encarcerados do que nas universidades. As projeções mais otimistas dão conta de que em 2020 pelo menos 1 de cada 4 jovens negros estarão atrás das grades.

Segundo o National Poverty Center, pelo menos 15% dos estadunidenses estão na pobreza  e, de acordo com o Departamento do Trabalho dos EUA,  a taxa de desemprego entre os negros é de 11,4% (contra 6,2% da população em geral). Desnecessário dizer que a condição negra nos EUA reflete a situação em que se encontram os negros no Brasil, na Colômbia, na África do Sul, no mundo.

Aqui entre nós,  a polícia mata em proporções semelhantes à polícia sul-africana no período do apartheid; como na Colômbia, as mulheres negras ocupam o mesmo lugar do período colonial, na cozinha dos senhores brancos;  as nossas favelas são um espelho do regime de segregação racial sul-africano e estadunidense. O corpo negro habita a zona da morte (física, simbólica, ontológica) e, quando as balas da polícia o atingem, sua eliminação física é “apenas” a reiteração de múltiplas mortes.  É possível concebermos a ideia de alguém morrer várias vezes?

O que o assassinato de Michael Brown, Travin Martin, Claudia Ferreira, Amarildo Silva e tantos outros nos lembra é que a morte negra não é tragédia. Ela carece de um registro político para ser considerada como tal. Nem o Estado nem a sociedade civil podem nos ajudar nesse “registro” porque ambos fazem parte de um projeto racial que requer uma guerra permanente contra nós negras e negros.

É neste sentido que se tornam ridículos os termos do nosso debate (me incluo aqui) em torno de figuras negras que buscam salvar a República e extirpar os defeitos de nascença do estado, como se o corpo negro que ocupa tais espaços deixasse de ser lido a partir do registro da negação ontológica. Onde residiria a possibilidade de resistência para quem lhe é negada a possibilidade de ser?Existe, de fato, possibilidade de politizar a morte negra se a morte negra não ganha, perante a sociedade civil, o status de assassinato?

Como fica visível nas manifestações que tomam as cidades estadunidenses agora, que explodiram nos subúrbios de Paris em 2005, no bairro de Soweto, em 2012, e seguem nos levantes da juventude negra Brasil afora, a politização da morte negra só é possível a partir de uma prática radical e autônoma. A morte negra cria condições de possibilidades para uma comunidade política constituída na violência legítima, na dor e na raiva.

Como nos lembra João Costa Vargas, a diáspora africana é uma supra-geografia da violência e da resistência, um espaço do genocídio negro e da rebelião permanente. Oxalá estas e tantas outras mortes sejam, então, semente de uma comunidade política em que negras e negros, aqui e lá, se sintam responsáveis pela vida de cada um/a e de todos. Ferguson,  Capão Redondo,  Soweto, Aguablanca, Presente!



Jaime Amparo Alves, PhD; É pesquisador visitante do Africana Research Center, Penn State University (EUA) e investigador associado do Centro de Estudios Afrodiasporicos (Universidad Icesi). É também militante da Uneafro-Brasil. Seus textos podem ser acessado sem:comraivaepaciencia.blogspot.com

Fonte: http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/08/20/racismo-nos-eua-no-brasil-e-no-mundo-o-corpo-negro-habita-a-zona-da-morte/

terça-feira, 8 de abril de 2014

AVIÃO MALASYA AIRLINES MH 370: TEORIA DA CONSPIRAÇÃO OU BOATO? TIRE SUAS CONCLUSÕES






Laura Botelho, Escritora e Pesquisadora, surpreende-nos com esta versão do misterioso desaparecimento do MH-370 da Malaysia Airlines. 

Afirma Laura:
Quando a própria media, convencional e respeitada, invoca um ar de suspense sobre o desaparecido avião após todas as hipóteses cientificas terem-se esgotado para saber o que aconteceu ao MH-370, algo de estranho se está a passar. Numa altura que se recrutam pessoas para ir a Marte, torna-se difícil explicar que não se consiga encontrar um “aviãzinho”! Vamos fazer um diagnóstico sobre este estranho caso, reunindo as peças do puzzle que se conhecem. 
Assim;
Boeing 777-200ER da Malaysia Airlines, tem uma reconhecida boa segurança, é dito até ser um dos mais seguros devido à sua tecnologia. No avião encontravam-se 239 passageiros. Sete eram crianças.
O Vôo MH-370 partiu do Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur às 00:41 de sábado (16:41 GMT sexta-feira), e deveria chegar a Pequim às 06:30 (22:30 GMT) - um pouco mais de 7h de vôo. O Capitão Zaharie Ahmed Shah, tinha mais de 18.000 horas de vôo e era funcionário da companhia aérea desde 1981 - 33 anos de casa.

Foram confirmados que estavam a bordo, 20 funcionários (12 da Malásia e 8 da China) da empresa FreescaleSemiconductor   - uma empresa de tecnologia com sede no Texas com bases em Kuala Lumpur e Tianjin, China. A Freescale Semiconductor desenvolve micro-processadores, sensores e outras tecnologias que executam funções de computação em sistemas electrónicos nos últimos 50 anos. 

A Freescale tinha acabado de lançar um novo "gadget" de guerra electrónica para sistemas de radares militares nos dias que antecederam ao desaparecimento do Boeing. Aparentemente, esta patente seria aprovada 4 dias após o desaparecimento do vôo, e o que estaria em jogo seria exactamente o direito à patente.
O valor da patente seria dividido assim -20% para Freescale Semiconductor  +20% para cada um dos 4 funcionários, os quais estariam no avião. Caso eles não sejam encontrados, a Freescale Semiconductor terá controle completo da patente. Se um detentor de patente morre, em seguida os titulares restantes dividem igualmente os dividendos do falecido, se não houver  testamento. Se quatro dos cinco morrem, então o titular da patente restante fica com 100% da patente. Os detentores de patente podem alterar o produto legalmente, passando para os seus herdeiros. No entanto, não podem fazê-lo naturalmente, até que a patente seja aprovada, o que não aconteceu, pois o avião desapareceu!

Quem são os outros 20% de accionistas da Freescale ? Incluem o Grupo Carlyle de investidores da private equity, cujo conselheiros no passado incluíram o ex-presidente americano George Bush  pai, e ex-primeiro-ministro britânico John Major. Clientes de destaque da Carlyle, incluem a Saudi Binladin Group, a empresa de construção de propriedade da família de Osama Bin Laden.

Sabe-se que uma carga altamente suspeita estava a bordo do avião em 8 de Março, declarada "publicamente como pilhas de lítio". Por este facto, teria Moscovo notificado o Ministério de Segurança do Estado da China (MSS) da sua preocupação quanto a essa carga, e Moscovo recebeu dos chineses a garantia de que todas as medidas seriam tomadas a fim de se verificar o que estava a ser mantido tão escondido, quando a aeronave entrasse no seu espaço aéreo Chinês.

Mas vamos a uns pormenores até agora pouco conhecidos: 
O voo MH-370 foi aparentemente desviado do seu curso por controlo remoto. Monitorizado por satélites e radares VKO no Oceano Índico, voou quase 3.447 km (2.142 milhas) para o atol de Diego Garcia.
A alegação, é que um controlo remoto (tipo drone) pode ter sido usado para controlar o avião, a sua velocidade, altitude e direcção através do envio de sinais de rádio sem a interferência dos pilotos. 
Ora, os EUA têm tecnologia capaz para desviar o avião para a sua base em Diego Garcia, ou para outra base qualquer, pois esta aeronave 777-200ER Boeing está equipada com um sistema fly-by-wire (FBW), que substitui os controles de vôo manuais convencionais de uma aeronave, com uma interface electrónica (controlo remoto) que lhe permite controlar qualquer aeronave deste tipo.

Entretanto;
Moradores nas Maldivas, afirmam ter visto um avião a voar baixo às 6:15h em 8 de Março, cuja descrição é aproximada do MH-370. Um especialista em aviação local, disse que provavelmente o avião teria sobrevoado as Maldivas. A possibilidade de qualquer aeronave sobrevoar a ilha no tempo e hora relatado, é extremamente baixa, acrescentou o especialista.
Testemunhas oculares do Kuda Huvadhoo, concordaram que o avião estava a voar de Norte para Sudeste, em direcção ao extremo sul das ilhas Maldivas. Também confirmaram o barulho incrivelmente alto que o avião fez quando voou sobre eles. Sabe-se que o avião, após ficar incontactável, passou para uma altitude de 3.000 pés, naturalmente para escapar à maioria dos radares

Habitantes das Maldivas:


"Eu nunca vi um avião voar tão baixo sobre a nossa ilha". "Vemos hidroaviões, mas tenho a certeza de que este não era um desses", disse uma testemunha ocular. "Algumas pessoas saíram das suas casas, para ver o que estava a causar este barulho tremendo".


Tudo indica que o avião desaparecido estará em Diego Garcia, uma base militar muito peculiar e importante dos EUA.  A matemática para a quilometragem e o tempo vôo, coincidem perfeitamente com os factos apresentados aqui, para mostrar que essa busca permanente de um avião que caiu no oceano é simplesmente um logro. Acho que isto resume tudo sobre esta farsa, montada para encobrir algo secretamente muito pesado. Talvez um dia venhamos a conhecer os motivos desse desvio de rota. Basta ficarmos atentos. Temos que pesquisar e compreender o "modus operandi" de e como nos enganam com tanta facilidade.
Por Laura Botelho


PS- Aquando do meu primeiro artigo sobre este assunto, recebi uma opinião que deixo para vossa apreciação, e que coincide com esta hipótese. Neste primeiro artigo, foi dito que seriam técnicos americanos que iriam a bordo, mas não, esses técnicos afinal são malaios e chineses ao serviço da empresa Texana.

Não se admirem que nos próximos dias, apareçam destroços no Índico, confirmando assim a tese da queda da nave no mar. Na minha modesta opinião, o avião poderá ter estado a sofrer um desmantelamento cirúrgico em «Diego Garcia», para que esses restos sejam transportados num submarino e largados algures nas zonas de busca. Resultado oficial, "o avião espatifou-se definitivamente no Índico", assunto encerrado!
Por fim:
O canal Discovery Channel, vai emitir um documentário sobre avião Malásia 370, 'O Mistério do Avião Desaparecido’ é o nome do documentário de 60 minutos que irá para o ar no dia 13 de Abril. Naturalmente não passará por pareceres técnicos, este caso é demasiado confidencial para ser discutido em público.


Adenda: E se o avião da Malaysia Airlines estiver numa base secreta dos EUA? (Visão)