quarta-feira, 24 de outubro de 2012

VAZAMENTO DE URÂNIO EM CAETITÉ



Na última quinta-feira, dezoito de outubro, ocorreu em Caetité o vazamento de mais de quatrocentos quilos de urânio, as dimensões da gravidade dos impactos é imensurável tanto para o meio ambiente quanto para a saúde dos trabalhadores. O fato faz parte de uma série de acidentes que tem se tornado rotina dentro da empresa e é uma das grandes preocupaçãos principalmente para os mais de quinhentos operários, entre efetivos e terceirizados que diariamente são expostos a diversos riscos. O medo de ir trabalhar tem sido constante para essas pessoas que nunca sabem como voltarão para suas casas. Frente à situação de insegurança, fruto da negligência e descaso do Estado com a atividade nuclear, para muitos funcionários sair para o trabalho na INB tem significado colocar as suas vidas em risco.
A URA/Caetité
Descoberta em 1976, a mina de Caetité é a maior mina de urânio a céu aberto da América Latina, numa das várias ocorrências localizadas numa faixa com cerca de 80 km de comprimento por 30 a 50 km de largura. Localizada a 40 km da sede do município, o complexo instalado produz um pó do mineral, conhecido por yellowcake, matéria-prima para produção do combustível nuclear. A mina é operada pela INB (Indústrias Nucleares do Brasil) que iniciou a fase de exploração a partir de janeiro do ano 2000.
Relatório da Plataforma DHESCA apresenta lista de acidentes registrados na URA/Caetité
O último acidente ocorrido na URA/Caetité não é um fato isolado e faz parte de um conjunto de falhas na unidade de Caetité. No Relatório da Plataforma DHESCA do ano de 2011 – Missão de Caetité estão listados alguns dos principais e mais graves acidentes ocorridos dentro da unidade em Caetité:
- Em abril de 2000 logo nos primeiros 4 meses de funcionamento da mina, 5 milhões de litros de licor de urânio transbordaram das bacias de sedimentação e vazaram para o meio ambiente. A INB só tornou o fato público 6 meses após o ocorrido;
- Em abril de 2002, um novo vazamento na chamada “área 170”, o qual teria sido mantido em segredo pela INB, havendo possível contaminação do meio ambiente;
- Entre janeiro e junho de 2004, a bacia de barramento de “finos” transbordou sete vezes, liberando efluentes líquidos com concentração de urânio-238, tório 232 e rádio-226 no meio ambiente, no leito do Riacho das Vacas (essa região é bastante habitada e por muitos praticada a agricultura de subsistência e pecuária. Impactos imensuráveis na vida dessas populações);
- Em 2006, o rompimento em uma das mantas da bacia de licor uranífero, provocou a paralisação das atividades por cerca de 60 dias;
- Em junho de 2008, houve denúncias de vazamentos dos tanques de lixiviação;
- Em 2008 amostras de agua coletadas pelo Greenpece detectam altos níveis de contaminação por urânio em poços usados pelas populações ao redor da área de influencia da mina;
- Em 28 de outubro de 2009, denúncias das entidades davam conta de um novo caso de vazamento nas dependências da URA/INB, de cerca de 30 mil litros de licor de urânio, com transbordamento de material radioativo;
- Em 14 de novembro do mesmo ano, outro acidente teria ocorrido na URA-INB, que, segundo as denúncias, teria levado a INB à suspender suas atividades e enviar os funcionários para casa. Moradores do entorno da mina afirmaram ter ouvido forte estrondo por volta das 20h da noite e suspeitam ter havido na ocasião algum tipo de desmoronamento ou acomodação do subsolo;
- Em 2 de maio de 2010, houve o rompimento de uma tubulação na Indústrias Nucleares do Brasil (INB), levando 900 litros de licor de urânio para o solo, na área de extração e beneficiamento deste minério;
- Em 15 de maio de 2011 a INB tenta entrar na cidade com uma carga de mais de 90 toneladas de material radioativo vindo de São Paulo. Imediatamente mais de 3000 pessoas tomaram as ruas da cidade e impediram a passagem do material;
- Ainda em 2011 uma visita técnica realizada durante FPI (Fiscalização Preventiva Integrada) detectou falhas no processo de reentaboramento do material radioativo vindo de São Paulo com urânio exposto no ambiente externo contaminando o meio ambiente e expondo os trabalhadores em situações de risco. Essa era uma atividade complexa, que exigia mão de obra qualificada, no entanto a operação foi realizada por trabalhadores terceirizados.
Mina de urânio em Caetité é uma bomba-relógio
Há tempos as organizações sociais vêm dando o alerta e anunciando que essa insistência com o sucateado programa nuclear (sucateado por que todo equipamento utilizado é de segunda mão, pois já foram usados e muitos já haviam sido descartados em Poços de Caldas e na Alemanha), ainda vai resultar em tragédias ainda mais graves do que as que já ocorreram. A conclusão que se tira frente a todo o descaso com a exploração de urânio parece ser a ideia de precarizar a tal ponto, que o Estado seja “obrigado” a entregar o setor a iniciativa privada. A mina do Ceará já caminha para um processo de privatização ainda na primeira etapa do ciclo de produção do minério, com exploração do fosfato, minério comumente agregado ao urânio, por uma empresa privada.
Do jeito que as coisas vão, não é de surpreender que em um curto espaço de tempo novos acidentes venham acontecer em proporções mais graves ainda por que a mina de urânio de Caetité é uma grande bomba relógio programada para explodir de tempos em tempos e as vítimas nunca aparecem de imediato já que os efeitos são cumulativos no organismo e podem num espaço pequeno de tempo surgirem as neoplasias, muito comuns nas comunidades próximo a mina.
Por Gilmar Ferreira dos Santos
Agente da CPT – Comissão Pastoral da Terra – Equipe sul/sudoeste da Bahia
EcoDebate, 24/10/2012

Genocídio dos Índios Guarani-Kaiowá





Carta da comunidade Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay-Iguatemi-MS para o Governo e Justiça do Brasil

Nós (50 homens, 50 mulheres e 70 crianças) comunidades Guarani-Kaiowá originárias de tekoha Pyelito kue/Mbrakay, viemos através desta carta apresentar a nossa situação histórica e decisão definitiva diante de da ordem de despacho expressado pela Justiça Federal de Navirai-MS, conforme o processo nº 0000032-87.2012.4.03.6006, do dia 29 de setembro de 2012. Recebemos a informação de que nossa comunidade logo será atacada, violentada e expulsa da margem do rio pela própria Justiça Federal, de Navirai-MS.

Assim, fica evidente para nós, que a própria ação da Justiça Federal gera e aumenta as violências contra as nossas vidas, ignorando os nossos direitos de sobreviver à margem do rio Hovy e próximo de nosso território tradicional Pyelito Kue/Mbarakay. Entendemos claramente que esta decisão da Justiça Federal de Navirai-MS é parte da ação de genocídio e extermínio histórico ao povo indígena, nativo e autóctone do Mato Grosso do Sul, isto é, a própria ação da Justiça Federal está violentando e exterminado e as nossas vidas. Queremos deixar evidente ao Governo e Justiça Federal que por fim, já perdemos a esperança de sobreviver dignamente e sem violência em nosso território antigo, não acreditamos mais na Justiça brasileira.

A quem vamos denunciar as violências praticadas contra nossas vidas? Para qual Justiça do Brasil? Se a própria Justiça Federal está gerando e alimentando violências contra nós. Nós já avaliamos a nossa situação atual e concluímos que vamos morrer todos mesmo em pouco tempo, não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui na margem do rio quanto longe daqui. Estamos aqui acampados a 50 metros do rio Hovy onde já ocorreram quatro mortes, sendo duas por meio de suicídio e duas em decorrência de espancamento e tortura de pistoleiros das fazendas.

Moramos na margem do rio Hovy há mais de um ano e estamos sem nenhuma assistência, isolados, cercado de pistoleiros e resistimos até hoje. Comemos comida uma vez por dia. Passamos tudo isso para recuperar o nosso território antigo Pyleito Kue/Mbarakay. De fato, sabemos muito bem que no centro desse nosso território antigo estão enterrados vários os nossos avôs, avós, bisavôs e bisavós, ali estão os cemitérios de todos nossos antepassados.

Cientes desse fato histórico, nós já vamos e queremos ser mortos e enterrados junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje, por isso, pedimos ao Governo e Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos para decretar a nossa morte coletiva e para enterrar nós todos aqui.

Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação e extinção total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar os nossos corpos. Esse é nosso pedido aos juízes federais. Já aguardamos esta decisão da Justiça Federal. Decretem a nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay e enterrem-nos aqui. Visto que decidimos integralmente a não sairmos daqui com vida e nem mortos.

Sabemos que não temos mais chance em sobreviver dignamente aqui em nosso território antigo, já sofremos muito e estamos todos massacrados e morrendo em ritmo acelerado. Sabemos que seremos expulsos daqui da margem do rio pela Justiça, porém não vamos sair da margem do rio. Como um povo nativo e indígena histórico, decidimos meramente em sermos mortos coletivamente aqui. Não temos outra opção esta é a nossa última decisão unânime diante do despacho da Justiça Federal de Navirai-MS.

Atenciosamente, Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay"


Você pode ajudar! Basta assinar a Petição Pública - http://www.avaaz.org/po/petition/Salvemos_os_indios_GuaraniKaiowa_URGENTE/

terça-feira, 16 de outubro de 2012

QUESTÕES DE GEOGRAFIA E ATUALIDADE PARA O ENEM 2012


GEOGRAFIA

O que mais cai em geografia: 1. Agricultura


Dentro deste tema estão assuntos como reforma agrária e problemas de distribuição de terra, extrativismo predatório, agronegócio, agropecuária, fome e subalimentação no Brasil e América Latina, e possíveis impactos sociais da agricultura como, por exemplo, o êxodo rural. “Ao falar de agricultura ou agronegócio no Enem a questão provavelmente terá um texto introdutório com maior número de linhas, sendo cobrada do aluno boa interpretação de texto. Uma dica é tentar transformar o enunciado em uma alternativa correta”, indica Feltrin.

O que mais cai em geografia: 2. Aspectos Socioeconômicos


São cobrados assuntos como desemprego, migração, mortalidade infantil, natalidade, indicadores de saúde, índice de desenvolvimento humano (IDH), e dados sobre a população, como crescimento e envelhecimento. “Gráficos e tabelas aparecem especialmente nestas questões. É necessário prestar atenção diretamente na tabela e não apenas nas alternativas, identificando nela quais são as informações necessárias para responder a questão”, explica o professor.

O que mais cai em geografia: 3. Desenvolvimento e Impactos Ambientais


Questões sobre problemas ambientais como o desmatamento, efeito estufa, enchentes, recursos hídricos, petróleo, poluição, a usina hidroelétrica de Belo Monte, lixo e energia também são muito frequentes. Esses assuntos costumam estar relacionados com biologia. Para se ter uma ideia, no mapeamento feito pela Universia Brasil dessa matéria as questões de ecologia ficaram em segundo lugar. Para 2012, Feltrin indica assuntos como a Rio +20 e o código florestal com possibilidades de serem cobrado pelo exame.

O que mais cai em geografia: 4. Geopolítica


Os tópicos cobrados no Enem sobre geopolítica estão normalmente relacionados a algum contexto histórico apresentado no enunciado da pergunta. Assuntos como globalização, terrorismo, petróleo e guerras, MERCOSUL, união de livre comércio entre países da América Latina, primavera árabe e as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) costumam cair com frequência. O professor Feltrin completa que o aluno deve “procurar informações em jornais, noticiários e mudanças geopolíticas recentes nos mapas, como por exemplo, a questão do novo país africano, Sudão do Sul, e a ONU (Organização das Nações Unidas), pois as pessoas que desenvolvem a prova costumam trabalhar muito com a atualidade”. Além disso, Daril indica assuntos como as eleições presidenciais nos EUA, ditadura militar no Brasil e a Comissão da Verdade, o populismo, trabalho escravo no estado de São Paulo e a imigração de haitianos para o País como grandes candidatos para serem cobrados no exame.
Independente do tema apresentado nas questões é a capacidade de interpretação de texto do aluno que irá indicar o seu sucesso. “A análise de tabelas, textos e mapas é muito frequente. O Enem costuma avaliar as habilidades e competências do aluno, não apenas conteúdos, pois é uma prova voltada para o ensino médio e não funciona como os vestibulares tradicionais”, completa o professor.



ATUALIDADES

1- Guerra das Malvinas

Três décadas após a guerra entre a Argentina e Reino Unido pela soberania das Ilhas Malvinas ou Falklands, a presidente argentina Cristina Kirchner reivindica as ilhas. "É um tema evidente para explorar o nacionalismo dos argentinos – tal como tentado pelo governo militar daquele país em 1982", explanam os docentes.

2- Haiti

A pobreza no Haiti agravada pelo terremoto que devastou o país em 2010 tem consequências no Brasil. Muitos se mudaram para terras brasileiras a fim de encontrarem uma vida melhor. "Estima-se que cerca de 4 mil haitianos vivam no Brasil, 40% deles em situação irregular. O governo brasileiro, cedo ou tarde, terá de enfrentar a discussão sobre uma política de imigração para o país, principalmente pelo fato de nossa economia se apresentar em desenvolvimento, atraindo imigrantes de outros países latino-americanos, já que, além de haitianos, há um grande contingente de bolivianos vivendo no território brasileiro, muitos deles em condições bastante precárias", explicam os professores.

3- Crise na Zona do Euro

A crise na Europa tem assustado investidores e posto em xeque a existência do Euro, moeda única europeia. "Destaque para os PIIGS, grupo formado por Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha – países com situação econômica mais crítica na zona do Euro (moeda única europeia). Isso porque houve certa irresponsabilidade fiscal por parte dos seus governos na última década – gastaram muito mais do que arrecadaram em impostos e aumentaram muito a dívida pública com relação ao PIB. Desde o ano passado, a expectativa geral do mercado internacional é que crescem as chances dos membros do PIIGS deixarem de pagar os juros e serviços de suas dívidas ou ainda não conseguirem honrar o resgate de títulos públicos. Tais expectativas aumentaram ainda mais, após a deflagração da crise na Grécia (cuja economia foi temporariamente salva graças a um aporte de capital da União Europeia, à renegociação de suas dívidas com seus principais credores e a um amargo e impopular pacote de corte nos gastos públicos)", discorrem os dois professores.

4- Comissão da Verdade

Com a recente manifestação do governo sobre o impedimento da apuração do caso Vladimir Herzog em razão da Lei da Anistia, o assunto da Ditadura e da Comissão da Verdade ganhou novo fôlego. "Promovida pelo governo brasileiro no intuito de investigar abusos de direitos humanos cometidos durante a ditadura militar (1964 – 1985), a Comissão da Verdade pode ser um tema de redação", palpitam Dario Feltrin e Célio Ricardo Tasinafo. 

5- Novo Código Florestal

"Depois de 47 anos, o Brasil terá um novo Código Florestal, o conjunto de leis que define regras para a produção agrícola e para a preservação ambiental. O texto anterior, de 1965, sofreu uma série de remendos ao longo das décadas e há muito tempo não cumpria seus principais objetivos. De um lado, defasado e desconectado da realidade atual, limitava o desenvolvimento do setor agrário no país; de outro, por ser amplamente desrespeitado, não servia para impedir o desmatamento", afirmam os professores.

6- Monarquia Constitucional

Com o aniversário de 60 anos da Rainha Elizabeth do Reino Unido, também conhecido como jubileu de Diamante pode despertar questões históricas: "O jubileu de Diamante (60 anos) da Rainha Elizabeth II do Reino Unido pode levar à cobrança de questões sobre as diferenças entre regimes absolutistas (soberania política concentrada totalmente nas mãos do Monarca, que acumula as funções de chefe de estado e chefe de governo) e as monarquias constitucionais (o monarca é chefe de estado, mas o governo é exercido pelo primeiro – ministro e seu gabinete, definidos a partir da maioria parlamentar)", explicam os professores da Oficina do Estudante.

7- Conferências da ONU sobre meio ambiente

Com a recente conclusão da Rio+20, o Enem e os vestibulares podem pedir questões sobre as conferências anteriores sobre meio ambiente. Os professores aconselham: "o estudante deve ficar atento a perguntas sobre: conferência de Estocolmo (1972); Eco 92 (Rio de Janeiro) e Rio+10 (Johanesburgo). Além disso, protocolos internacionais sobre temas relacionados à preservação ambiental também são importantes, como por exemplo, o protocolo de Kyoto sobre a emissão dos gases relacionados ao efeito estufa (1997)".

8- Processos de nacionalização de hidrocarbonetos em países latino americanos

Desde 1998, ano em que Hugo Chávez começou um processo de estatização das empresas exploradoras de petróleo na Venezuela, o tema tem sido recorrente na América Latina. "Em 2012, o presidente Evo Morales acelerou as nacionalizações na Bolívia e o mesmo caminho foi tomado por Cristina Kichner na Argentina", assinalam os docentes. 

9- Produção de energia hidrelétrica no Brasil e a usina de Belo Monte

"Tema recorrente nas provas de vestibular. A polêmica construção da Usina de Belo Monte na bacia do Rio Xingu e todos os impactos socioambientais a ela relacionados devem aparecer em vários exames", apostam.

10- Rios Voadores

Como explicam os professores, "as chuvas que ocorrem no Brasil não são provenientes apenas da umidade que vem do oceano Atlântico e se condensa no continente. Boa parte delas se origina da evaporação e da transpiração da floresta Amazônica, que formam uma quantidade enorme de vapor de água que se desloca da região Norte até o Sul do país. Esses vapores são transportados pelos ventos até a cordilheira andina, que funciona como uma barreira natural e redireciona o percurso da umidade para o Norte da Argentina, o Uruguai, o Sul e o Sudeste do Brasil". O tema tem relevância atual porque influencia nas temperaturas e no clima de duas regiões brasileiras. A pergunta, portanto, fica: o que acontecerá com o clima destes estados com a crescente devastação das matas amazônicas? Talvez você enfrente esta questão em uma redação de vestibular ou no próprio Enem.

FONTE: UNIVERSIA

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

UNIÃO EUROPÉIA GANHA PRÊMIO NOBEL DA PAZ EM 2012


OSLO (AFP) – O Prêmio Nobel da Paz de 2012 foi atribuído nesta sexta-feira à União Europeia (UE), uma instituição atualmente abalada pela crise econômica, por ter extirpado as guerras e garantido os direitos humanos em um continente que saía da destruição da Segunda Guerra Mundial, anunciou o Comitê Nobel norueguês.

A UE (atualmente com 27 membros) e as instituições que a precederam em sua formação “contribuíram durante mais de seis décadas para a paz e a reconciliação, a democracia e os direitos humanos”, disse em Oslo o presidente do Comitê Nobel, Thorbjoern Jagland, cujo país, paradoxalmente, não é membro da UE.
O prêmio foi uma surpresa em um momento no qual a solidariedade europeia enfrenta o maior desafio em décadas diante das profundas divisões dentro do bloco, onde os países do norte, ricos e liderados pela Alemanha, demonstram resistência em ajudar os países do sul, com graves problemas financeiros provocados pela dívida excessiva e submetidos a políticas de austeridade.
Um teste de solidariedade, cujos resultados ainda não são conhecidos, que já revelou profundas divergências no projeto europeu, que não goza de grande prestígio entre a opinião pública, que considera Bruxelas (capital da UE) um mundo distante e burocrático.
“Atualmente a UE sofre graves dificuldades econômicas e problemas sociais consideráveis”, reconheceu Jagland.
“Durante um período de 70 anos, Alemanha e França se enfrentaram em três guerras (1870, 1914-18 e 1939-45). Hoje em dia, uma guerra entre Alemanha e França é impensável”, destacou Jagland.
“Isto demonstra como, através de um esforço bem encaminhado e da construção da confiança mútua, inimigos históricos podem virar sócios próximos”, completou.
As atuações em termos de paz, democracia e direitos humanos contribuíram para transformar a Europa “de um continente em guerra em um continente em paz”.
Os europeus conseguiram “superar guerras e divisões para formar juntos um continente de paz e prosperidade”, celebrou o presidente da UE, Herman Van Rompuy, no Twitter.
“O Nobel da Paz é uma grande honra para toda a UE para seus 500 milhões de cidadãos”, afirmou o presidente Comissão Europeia, o português José Manuel Barroso.
“Estou profundamente emocionado e honrado de que a UE tenha recebido o prêmio da paz”, disse o presidente do Parlamento Europeu, o deputado social-democrata alemão Martin Schulz.
A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, considera que o prêmio representa “um grande estímulo para o projeto pacificador que a União Europeia representa no continente”.
Merkel também aproveitou para ratificar a confiança no euro, que ela considera a continuação de uma integração que há poucas décadas parecia utópica.
“O euro é mais do que uma moeda. É a ideia da Europa como comunidade de paz e de valores”.
O presidente francês, o socialista François Hollande, considerou que o prêmio “dá a Europa uma responsabilidade ainda maior, de preservar sua unidade, sua capacidade de promover o crescimento, o emprego e a solidariedade com seus membros”.
Nascida das ruínas da Segunda Guerra Mundial e sob o estímulo dos seis países signatários do Tratado de Roma em 1957 (Alemanha, França, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo), a Comunidade Econômica Europeia (embrião da UE), ajudou a estabilizar um continente acostumado aos conflitos.
Apesar das crises registradas durante seu crescimento, o bloco uniu os destinos de antigos inimigos. Virou o maior mercado comum e uma grande potência econômica mundial, onde a livre circulação de bens, pessoas, serviços e capitais está garantida.
Ao longo dos anos, o projeto se expandiu até englobar 27 Estados situados dos dois lados da antiga cortina de ferro, que separava os países ocidentais das nações do bloco comunista. O espaço tem grandes divergências econômicas, sociais e culturais. Dos 27 países da UE, 17 estabeleceram uma união monetária, a Eurozona.
A história da UE foi marcada por outros momentos graves, que questionaram sua missão e eficácia, como a de sua impotência ante a explosão da guerra dos Bálcãs após a desintegração da Iugoslávia e a tardia intervenção para acabar com o conflito na Bósnia (1992-1995).
A atribuição do Nobel provoca certa controvérsia pelo papel da UE no âmbito diplomático, no momento em que o bloco tenta reforçar o papel para derrubar o regime de Bashar al-Assad na Síria e impedir o programa nuclear do Irã.
“É um prêmio realmente estranho, ainda mais neste momento de crise e controvérsia sobre as políticas econômicas e financeiras da União Europeia”, opinou Mariano Aguirre, diretor do Centro de Paz NOREF, com sede em Oslo.
“Mas internamente tem sido um projeto de sucesso, que tem conseguido manter a paz entre seus membros com acordos econômicos, políticos, sociais, culturais e de segurança”, admitiu.
O Prêmio Nobel consiste em uma medalha, um diploma e um cheque de oito milhões de coroas (1,2 milhão de dólares).


VEJA AGORA A LISTA DOS ÚLTIMOS GANHADORES DO PRÊMIO NOBEL:


2011: Ellen Johnson Sirleaf, Leymah Gbowee e Tawakkul Karman, ativistas
2008: mediador e ex-presidente Martti Ahtisaari (Finlândia)
2007: ex-vice-presidente Al Gore (Estados Unidos) e o painel da ONU sobre a mudança climática (Painel Intergovernamental para Mudança Climática, IPCC)
2006: Muhammad Yunus (Bangladesh) e o Banco Grameen de microcréditos
2005: Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e seu diretor Mohamed ElBaradei (Egito)
2004: ecologista queniana Wangari Maathai
2003: ativista iraniana Shirin Ebadi
2002: ex-presidente americano Jimmy Carter
2001: A Organização das Nações Unidas (ONU) e seu então secretário-geral, Kofi Annan (Gana).
2000: Kim Dae Jung (Coreia do Sul)