quarta-feira, 25 de setembro de 2013

APÓS LEI MARIA DA PENHA ÍNDICES CONTINUAM ALTO

Entre 2001 e 2011, a cada uma hora e meia uma mulher morreu de forma violenta no Brasil. Foram 5.664 mortes por ano, 472 por mês, 15 por dia. E cerca de 40% de todos os assassinatos de mulheres foram cometidos por um parceiro íntimo.
Os dados, para lá de lamentáveis, foram apresentados hoje pelo IPEA (Instituto de Políticas Econômicas Aplicadas) e são resultado de uma pesquisa sobre o feminicídio no Brasil.
Por feminicídio, vale dizer, entende-se o assassinato de mulheres em decorrência de elas serem simplesmente… mulheres! Ou seja, trata-se de uma violência extrema que acontece dentro de um contexto de relações sociais de gênero em que o homem, geralmente atual ou ex-companheiro, entende que tem legitimidade para tirar a vida de alguém porque esta pessoa seria sua “propriedade” ou “inferior” a ele.
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No período analisado, estima-se que ocorreram mais de 50 mil feminicídios.
Outra conclusão bastante assustadora é que a Lei Maria da Penha, de prevenção e enfrentamento à violência doméstica e familiar, não contribuiu para reduzir o número de assassinatos de mulheres.
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Segundo o relatório, as taxas de mortalidade por 100 mil mulheres foram 5,28 no período 2001-2006 (antes) e 5,22 em 2007-2011 (depois). Houve apenas um pequeno decréscimo da taxa em 2007, imediatamente após a vigência da Lei, quando, acredito eu, a campanha para divulgá-la foi mais intensa.
Na conclusão do relatório, as pesquisadoras Leila Posenato Garcia, Lúcia Rolim Santana de Freitas, Gabriela Drummond Marques da Silva e Doroteia Aparecida Höfelmann destacam “a necessidade de reforço às ações previstas na Lei Maria da Penha, bem como a adoção de outras medidas voltadas ao enfrentamento à violência contra a mulher, à efetiva proteção das vítimas e à redução das desigualdades de gênero no Brasil.”
Elas afirmam ainda que os dados do estudo vão de encontro ao resultados da CPMI da violência contra a mulher e que corroboram com o proposta de alterar o Código Penal, inserindo o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, “como uma forma extrema de violência de gênero contras as mulheres”.
Veja alguns outros resultados do IPEA:
  • Os estados com maiores taxas foram: Espírito Santo (11,24), Bahia (9,08), Alagoas (8,84), Roraima (8,51) e Pernambuco (7,81). Por sua vez, taxas mais baixas foram observadas no Piauí (2,71), Santa Catarina (3,28) e São Paulo (3,74).
  • Mulheres jovens foram as principais vítimas: 31% estavam na faixa etária de 20 a 29 anos e 23% de 30 a 39 anos. Mais da metade dos óbitos (54%) foram de mulheres de 20 a 39 anos.
  • No Brasil, 61% dos óbitos foram de mulheres negras (61%), que foram as principais vítimas em todas as regiões, à exceção da Sul. Merece destaque a elevada proporção de óbitos de mulheres negras nas regiões Nordeste (87%), Norte (83%) e Centro-Oeste (68%).
  • A maior parte das vítimas tinham baixa escolaridade, 48% daquelas com 15 ou mais anos de idade tinham até 8 anos de estudo.
  • No Brasil, 50% dos feminicídios envolveram o uso de armas de fogo e 34%, de instrumento perfurante, cortante ou contundente. Enforcamento ou sufocação foi registrado em 6% dos óbitos. Maus tratos – incluindo agressão por meio de força corporal, força física, violência sexual, negligência, abandono e outras síndromes de maus tratos (abuso sexual, crueldade mental e tortura) – foram registrados em 3% dos óbitos.
  • 29% dos feminicídios ocorreram no domicílio, 31% em via pública e 25% em hospital ou outro estabelecimento de saúde.
  • 36% ocorreram aos finais de semana. Os domingos concentraram 19% das mortes.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

AGRICULTURA COM INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS



Apontada pelo Fórum Econômico Mundial, de Davos, na Suíça, como uma das empresas “Pioneiras em Tecnologia 2014”, a BUG, sediada em Piracicaba, no interior de São Paulo, e nascida há 10 anos como startup da incubadora da ESALQ/USP, produz insetos (vespas) para controle de pragas em lavouras.
Agrônomo e biólogo se acertaram, um fundo de investimentos ajudou, o BNDES financiou, e todos chegaram lá. Ótimo para a lavoura não arcaica.
Google, Mozilla, Wikipedia, Twitter, no passado, receberam a mesma láurea.
Parte do estágio avançado a que chegou a agricultura brasileira deve-se às inovações tecnológicas introduzidas nas últimas décadas. Instituições oficiais de pesquisa e laboratórios de empresas multinacionais aqui instaladas podem repartir o mérito. Difícil estabelecer em que proporção.
Quem pouco aparece na foto da inovação tecnológica, o que faz da BUG uma exceção, é a iniciativa privada nascida nesta Federação de Corporações Brasil. Nem que fosse para amasiar-se com Embrapa, IAC (Instituto Agronômico de Campinas) ou universidades relacionadas.
Efeito desse distanciamento é o acesso restrito da agricultura a inovações de menores retumbância acadêmica, comercial ou midiática, mas fundamentais para diminuir os impactos negativos da atividade, como os golpes de tacape nos ambiente e bolso do cliente.
Vivendo momento de ajuste de contas entre real e dólar, efeito que anima a exportação agrícola e entristece a compra de insumos importados, os rurais parecem desconhecer a gama de produtos de baixo impacto, menor custo e eficácia semelhante ou até superior às convencionais, disponíveis no mercado.
Se perguntarmos aos fabricantes de agroquímicos sobre bioestimulantes, extratos vegetais, ácidos húmicos, controles biológicos de pragas e doenças, condicionadores de solo à base de matéria orgânica, não devemos esperar mais do que muxoxos relacionando-os apenas à prática da agricultura orgânica.
Não é verdade. São tecnologias coadjuvantes, expressivas para aumentar a produtividade, diminuir a necessidade de agroquímicos e reduzir o custo por hectare plantado.
Dez anos atrás, participei de um seminário na USP sobre inovação tecnológica. Seu objetivo era encontrar caminhos capazes de facilitar a interação entre a pesquisa acadêmica e a iniciativa privada.
Acabou de ser realizado, em São Paulo, o 5º Congresso de Inovação na Indústria. E qual a notícia que me trazem de lá? “Bom para promover o diálogo entre empresas, autoridades e identificar pontos de estrangulamento no processo de inovação”.
Será que décadas de diálogo ainda não foram suficientes para afrouxar esse nó na garganta da inovação?
Na agricultura, a maratona não se completa porque a acomodação ganha da ousadia. Porque as empresas pequenas e médias não têm dinheiro para superar os trâmites burocráticos estatais de pouca verba e muito verbo sempre mal escrito em suas normatizações. Porque lhes faltam recursos para investir em distribuição e divulgação, o que deixa grandes proprietários rurais incrédulos diante de empreendedores nanicos. Porque as equipes técnicas das empresas distribuidoras baseiam suas indicações em patrocínios de fornecedores de insumos convencionais.
Diante disso, parece claro que sem ajuda estatal será pouca a ousadia de pequenos empreendedores em desenvolver tecnologias a partir de matérias primas mais baratas e processos de produção menos complexos.
A professora de economia da Universidade de Sussex, no Reino Unido, Mariana Mazzucato, no livro The Entrepreneurial State: Debunking Puclic vs. Private Sector Myths, conclui ser o Estado responsável pelos maiores investimentos e riscos de descobertas que, mais tarde, transferidas para a iniciativa privada, resultam em fabulosos lucros.
Uma visão estratégica que tem faltado ao Estado brasileiro para desenvolver tecnologias para a agricultura de baixo impacto.

Fonte: http://www.cartacapital.com.br/economia/visao-estrategica-para-producao-de-baixo-impacto-2077.html

TRABALHO INFANTIL NO MUNDO É REDUZIDO EM UM TERÇO ENTRE 2000 E 2012

Trabalho infantil
A estimativa é que mais da metade das crianças envolvidas em algum tipo de trabalho exercem atividades consideradas perigosas

Os casos de trabalho infantil no mundo tiveram redução de um terço entre 2000 e 2012, segundo dados do estudo Medir o Progresso na Luta contra o Trabalho Infantil: Estimativas e Tendências, divulgado nesta segunda-feira 23 pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). O número de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos trabalhando nos últimos 12 anos caiu de 246 milhões para 168 milhões.
Para a OIT, o avanço no combate ao trabalho infantil foi possível devido à intensificação de políticas públicas e da proteção social das crianças e dos adolescentes nos últimos anos, acompanhada pela adesão a convenções da organização e pela adoção de marcos legislativos sólidos no âmbito nacional. A instituição verificou que os maiores progressos na queda do uso desse tipo de mão de obra ocorreu entre 2008 e 2012.
De acordo com a OIT, essa redução, no entanto, não é suficiente para eliminar as piores formas de trabalho infantil - meta assumida pela comunidade internacional em parceria com a organização, por meio da Convenção 182. A estimativa é que mais da metade das crianças envolvidas em algum tipo de trabalho exercem atividades consideradas perigosas.
“Estamos nos movendo na direção correta, mas os progressos ainda são muito lentos. Se realmente queremos acabar com o flagelo do trabalho infantil no futuro próximo, é necessário intensificar os esforços em todos os níveis. Existem 168 milhões de boas razões para fazê-lo”, declarou o diretor-geral da OIT, Guy Ryder.
As piores formas de trabalho infantil são as consideradas perigosas - atividade ou ocupação, por crianças ou adolescentes, que tenham efeitos nocivos à segurança física ou mental, ao desenvolvimento ou à moral da pessoa. O trabalho doméstico, por exemplo, é considerado uma das piores formas. Segundo a OIT, aproximadamente 15 milhões de crianças estão envolvidas nesse tipo de atividade. Só no Brasil, são quase 260 mil.
A divulgação do estudo levou em consideração a proximidade da 3ª Conferência Global sobre Trabalho Infantil, que será realizada em Brasília, em outubro.
Regionalmente, o maior número de crianças em atividade no mercado de trabalho está na Ásia - 78 milhões, cerca de 46% do total. Proporcionalmente à população, no entanto, o Continente Africano é o que concentra o maior percentual de menores de 18 anos envolvidos nesse tipo de atividade, 21%.
Em relação ao setor em que crianças e adolescentes são encontrados trabalhando com maior frequência, a agricultura é o que tem a maior concentração, 59% dos casos (98 milhões). Os setores de serviços (54 milhões) e da indústria (12 milhões) também mostram incidência de uso de mão de obra infantil, especialmente na economia informal.
*Publicado originalmente em Agência Brasil