quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Racismo nos EUA, no Brasil e no mundo: “O corpo negro habita a zona da morte.”


Jovem, negro, nordestino, migrante e morador das periferias da baixada santista, onde o índice de assassinatos promovidos por policiais e milicianos é dos mais altos do estado de São Paulo. Na contramão dos desejos juvenis, dedicou-se aos estudos em um cursinho pré-vestibular comunitário. Chegou à universidade. Formou-se em Jornalismo. A partir da ação política dos cursinhos, conquistou bolsa para mestrado nos Estados Unidos. Emendou um doutorado e se tornou um especialista sobre a questão racial nas Américas. Hoje, Jaime Amparo Alves é PhD, pesquisador visitante do Africana Research Center, Penn State University (EUA) e investigador associado do Centro de Estudios Afrodiasporicos (Universidad Icesi). É como um militante do movimento negro brasileiro, contudo, que Jaime descreve o levante negro que tomou as ruas de diversas cidades norte-americanas desde o assassinato do jovem negro Michael Brown. Vale a pena ler . E revoltar-se.

Hesitei em escrever sobre o assassinato de Michael Brown, em Ferguson, no estado do Missouri, no ultimo dia 9 de agosto.  Não há nada de novo nas imagens televisivas de um jovem  negro de 18 anos abatido a tiros nas ruas de uma cidade onde quer que seja. Afinal, enquanto Brown era assassinado em Ferguson, no sul do continente outros jovens negros encontravam a morte nas mãos da polícia militar.

Do outro lado do Atlântico, a comunidade negra relembrava o Massacre de Marikana, quando em 16 de agosto de 2012 a polícia sul-africana assassinou 34 trabalhadores negros que protestavam por melhores salários. Estas e tantas outras mortes que ainda virão são a reiteração de uma “verdade racial” que não deixa dúvidas sobre  o lugar do corpo negro em “nossas” sociedades.

Talvez tenha sido Franz Fanon quem tenha melhor articulado em palavras a impossibilidade negra no mundo social. Para ele, nós negras e negros habitamos uma zona chamada “a zona do não-ser”. Somos,  por assim dizer, civilmente/socialmente mortos e é essa morte ontológica (a impossibilidade de sermos reconhecidos/as como parte da comunidade humana) o que faz possível a existência civil branca. Não é estranho, portanto, que a solidariedade na luta antirracista quase sempre resvala na impossibilidade branca de pensar no que Fanon chamou de “exclusividade recíproca”. Em suas palavras: “não é possível reconciliação porque, dos dois termos [o branco e o negro] um é supérfluo” (1963, 39). Qual?

Deixo para outra ocasião a questão da cumplicidade branca com a morte negra, um incisivo campo teórico – me vem a mente o inovador trabalho de Lourenço Cardoso – que tem se ocupado disso mostrando como os brancos lucram com suas identidades. Vou me ater a outro aspecto: a (im)possibilidade de resistir a violência do estado racial. Desde o sábado, quando Michael Brown foi assassinado, os Estados Unidos têm registrado revoltas urbanas que lembram os protestos “violentos” de Los Angeles, em 1992, quando as câmeras de vídeo flagraram policiais espancando um jovem negro nos subúrbios da cidade.

As revoltas nas cidades estadunidenses são um lembrete da ausência de espaço político para a questão negra dentro da chamada sociedade civil. Os canais tradicionais de manifestação aqui e lá não dão conta de responder aos desafios das pessoas negras. Na verdade, eles parecem parte do problema. Neste sentido, os protestos pacíficos dos brancos progressistas, e daqueles negros que conseguiram um “lugar” ao sol, se contrastam com as furiosas demonstrações de “basta” de uma juventude encurralada nos guetos.

Vale sublinhar o outro lado da América de Barack Obama: são pelo menos 2 milhões de pessoas encarceradas.  Em muitos dos subúrbios, há mais homens negros encarcerados do que nas universidades. As projeções mais otimistas dão conta de que em 2020 pelo menos 1 de cada 4 jovens negros estarão atrás das grades.

Segundo o National Poverty Center, pelo menos 15% dos estadunidenses estão na pobreza  e, de acordo com o Departamento do Trabalho dos EUA,  a taxa de desemprego entre os negros é de 11,4% (contra 6,2% da população em geral). Desnecessário dizer que a condição negra nos EUA reflete a situação em que se encontram os negros no Brasil, na Colômbia, na África do Sul, no mundo.

Aqui entre nós,  a polícia mata em proporções semelhantes à polícia sul-africana no período do apartheid; como na Colômbia, as mulheres negras ocupam o mesmo lugar do período colonial, na cozinha dos senhores brancos;  as nossas favelas são um espelho do regime de segregação racial sul-africano e estadunidense. O corpo negro habita a zona da morte (física, simbólica, ontológica) e, quando as balas da polícia o atingem, sua eliminação física é “apenas” a reiteração de múltiplas mortes.  É possível concebermos a ideia de alguém morrer várias vezes?

O que o assassinato de Michael Brown, Travin Martin, Claudia Ferreira, Amarildo Silva e tantos outros nos lembra é que a morte negra não é tragédia. Ela carece de um registro político para ser considerada como tal. Nem o Estado nem a sociedade civil podem nos ajudar nesse “registro” porque ambos fazem parte de um projeto racial que requer uma guerra permanente contra nós negras e negros.

É neste sentido que se tornam ridículos os termos do nosso debate (me incluo aqui) em torno de figuras negras que buscam salvar a República e extirpar os defeitos de nascença do estado, como se o corpo negro que ocupa tais espaços deixasse de ser lido a partir do registro da negação ontológica. Onde residiria a possibilidade de resistência para quem lhe é negada a possibilidade de ser?Existe, de fato, possibilidade de politizar a morte negra se a morte negra não ganha, perante a sociedade civil, o status de assassinato?

Como fica visível nas manifestações que tomam as cidades estadunidenses agora, que explodiram nos subúrbios de Paris em 2005, no bairro de Soweto, em 2012, e seguem nos levantes da juventude negra Brasil afora, a politização da morte negra só é possível a partir de uma prática radical e autônoma. A morte negra cria condições de possibilidades para uma comunidade política constituída na violência legítima, na dor e na raiva.

Como nos lembra João Costa Vargas, a diáspora africana é uma supra-geografia da violência e da resistência, um espaço do genocídio negro e da rebelião permanente. Oxalá estas e tantas outras mortes sejam, então, semente de uma comunidade política em que negras e negros, aqui e lá, se sintam responsáveis pela vida de cada um/a e de todos. Ferguson,  Capão Redondo,  Soweto, Aguablanca, Presente!



Jaime Amparo Alves, PhD; É pesquisador visitante do Africana Research Center, Penn State University (EUA) e investigador associado do Centro de Estudios Afrodiasporicos (Universidad Icesi). É também militante da Uneafro-Brasil. Seus textos podem ser acessado sem:comraivaepaciencia.blogspot.com

Fonte: http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/08/20/racismo-nos-eua-no-brasil-e-no-mundo-o-corpo-negro-habita-a-zona-da-morte/

terça-feira, 8 de abril de 2014

AVIÃO MALASYA AIRLINES MH 370: TEORIA DA CONSPIRAÇÃO OU BOATO? TIRE SUAS CONCLUSÕES






Laura Botelho, Escritora e Pesquisadora, surpreende-nos com esta versão do misterioso desaparecimento do MH-370 da Malaysia Airlines. 

Afirma Laura:
Quando a própria media, convencional e respeitada, invoca um ar de suspense sobre o desaparecido avião após todas as hipóteses cientificas terem-se esgotado para saber o que aconteceu ao MH-370, algo de estranho se está a passar. Numa altura que se recrutam pessoas para ir a Marte, torna-se difícil explicar que não se consiga encontrar um “aviãzinho”! Vamos fazer um diagnóstico sobre este estranho caso, reunindo as peças do puzzle que se conhecem. 
Assim;
Boeing 777-200ER da Malaysia Airlines, tem uma reconhecida boa segurança, é dito até ser um dos mais seguros devido à sua tecnologia. No avião encontravam-se 239 passageiros. Sete eram crianças.
O Vôo MH-370 partiu do Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur às 00:41 de sábado (16:41 GMT sexta-feira), e deveria chegar a Pequim às 06:30 (22:30 GMT) - um pouco mais de 7h de vôo. O Capitão Zaharie Ahmed Shah, tinha mais de 18.000 horas de vôo e era funcionário da companhia aérea desde 1981 - 33 anos de casa.

Foram confirmados que estavam a bordo, 20 funcionários (12 da Malásia e 8 da China) da empresa FreescaleSemiconductor   - uma empresa de tecnologia com sede no Texas com bases em Kuala Lumpur e Tianjin, China. A Freescale Semiconductor desenvolve micro-processadores, sensores e outras tecnologias que executam funções de computação em sistemas electrónicos nos últimos 50 anos. 

A Freescale tinha acabado de lançar um novo "gadget" de guerra electrónica para sistemas de radares militares nos dias que antecederam ao desaparecimento do Boeing. Aparentemente, esta patente seria aprovada 4 dias após o desaparecimento do vôo, e o que estaria em jogo seria exactamente o direito à patente.
O valor da patente seria dividido assim -20% para Freescale Semiconductor  +20% para cada um dos 4 funcionários, os quais estariam no avião. Caso eles não sejam encontrados, a Freescale Semiconductor terá controle completo da patente. Se um detentor de patente morre, em seguida os titulares restantes dividem igualmente os dividendos do falecido, se não houver  testamento. Se quatro dos cinco morrem, então o titular da patente restante fica com 100% da patente. Os detentores de patente podem alterar o produto legalmente, passando para os seus herdeiros. No entanto, não podem fazê-lo naturalmente, até que a patente seja aprovada, o que não aconteceu, pois o avião desapareceu!

Quem são os outros 20% de accionistas da Freescale ? Incluem o Grupo Carlyle de investidores da private equity, cujo conselheiros no passado incluíram o ex-presidente americano George Bush  pai, e ex-primeiro-ministro britânico John Major. Clientes de destaque da Carlyle, incluem a Saudi Binladin Group, a empresa de construção de propriedade da família de Osama Bin Laden.

Sabe-se que uma carga altamente suspeita estava a bordo do avião em 8 de Março, declarada "publicamente como pilhas de lítio". Por este facto, teria Moscovo notificado o Ministério de Segurança do Estado da China (MSS) da sua preocupação quanto a essa carga, e Moscovo recebeu dos chineses a garantia de que todas as medidas seriam tomadas a fim de se verificar o que estava a ser mantido tão escondido, quando a aeronave entrasse no seu espaço aéreo Chinês.

Mas vamos a uns pormenores até agora pouco conhecidos: 
O voo MH-370 foi aparentemente desviado do seu curso por controlo remoto. Monitorizado por satélites e radares VKO no Oceano Índico, voou quase 3.447 km (2.142 milhas) para o atol de Diego Garcia.
A alegação, é que um controlo remoto (tipo drone) pode ter sido usado para controlar o avião, a sua velocidade, altitude e direcção através do envio de sinais de rádio sem a interferência dos pilotos. 
Ora, os EUA têm tecnologia capaz para desviar o avião para a sua base em Diego Garcia, ou para outra base qualquer, pois esta aeronave 777-200ER Boeing está equipada com um sistema fly-by-wire (FBW), que substitui os controles de vôo manuais convencionais de uma aeronave, com uma interface electrónica (controlo remoto) que lhe permite controlar qualquer aeronave deste tipo.

Entretanto;
Moradores nas Maldivas, afirmam ter visto um avião a voar baixo às 6:15h em 8 de Março, cuja descrição é aproximada do MH-370. Um especialista em aviação local, disse que provavelmente o avião teria sobrevoado as Maldivas. A possibilidade de qualquer aeronave sobrevoar a ilha no tempo e hora relatado, é extremamente baixa, acrescentou o especialista.
Testemunhas oculares do Kuda Huvadhoo, concordaram que o avião estava a voar de Norte para Sudeste, em direcção ao extremo sul das ilhas Maldivas. Também confirmaram o barulho incrivelmente alto que o avião fez quando voou sobre eles. Sabe-se que o avião, após ficar incontactável, passou para uma altitude de 3.000 pés, naturalmente para escapar à maioria dos radares

Habitantes das Maldivas:


"Eu nunca vi um avião voar tão baixo sobre a nossa ilha". "Vemos hidroaviões, mas tenho a certeza de que este não era um desses", disse uma testemunha ocular. "Algumas pessoas saíram das suas casas, para ver o que estava a causar este barulho tremendo".


Tudo indica que o avião desaparecido estará em Diego Garcia, uma base militar muito peculiar e importante dos EUA.  A matemática para a quilometragem e o tempo vôo, coincidem perfeitamente com os factos apresentados aqui, para mostrar que essa busca permanente de um avião que caiu no oceano é simplesmente um logro. Acho que isto resume tudo sobre esta farsa, montada para encobrir algo secretamente muito pesado. Talvez um dia venhamos a conhecer os motivos desse desvio de rota. Basta ficarmos atentos. Temos que pesquisar e compreender o "modus operandi" de e como nos enganam com tanta facilidade.
Por Laura Botelho


PS- Aquando do meu primeiro artigo sobre este assunto, recebi uma opinião que deixo para vossa apreciação, e que coincide com esta hipótese. Neste primeiro artigo, foi dito que seriam técnicos americanos que iriam a bordo, mas não, esses técnicos afinal são malaios e chineses ao serviço da empresa Texana.

Não se admirem que nos próximos dias, apareçam destroços no Índico, confirmando assim a tese da queda da nave no mar. Na minha modesta opinião, o avião poderá ter estado a sofrer um desmantelamento cirúrgico em «Diego Garcia», para que esses restos sejam transportados num submarino e largados algures nas zonas de busca. Resultado oficial, "o avião espatifou-se definitivamente no Índico", assunto encerrado!
Por fim:
O canal Discovery Channel, vai emitir um documentário sobre avião Malásia 370, 'O Mistério do Avião Desaparecido’ é o nome do documentário de 60 minutos que irá para o ar no dia 13 de Abril. Naturalmente não passará por pareceres técnicos, este caso é demasiado confidencial para ser discutido em público.


Adenda: E se o avião da Malaysia Airlines estiver numa base secreta dos EUA? (Visão)

sexta-feira, 4 de abril de 2014

ESTUPRO: ONDE MORA O PERIGO?


Percepção sobre crimes sexuais poupa família, criminaliza rua e engana. Em cada quatro casos, três ocorrem na casa das vítimas.
Por Marcos Aurélio Souza

A recente pesquisa divulgada pelo IPEA “Estupro no Brasil: uma radiografia da violência” teve um papel pedagógico nas discussões públicas sobre o tema da violência sexual no Brasil. Trouxe para luz do dia a obtusidade agressiva e animalesca que se esconde nos porões da consciência individual de muita gente. Detectou concepções que revelam completa incapacidade de alguns para viver em sociedades, seja qual for seu grau de educação formal.
Um dado importante da pesquisa, dentre outros igualmente fundamentais para entender ou estimar em que ponto está a percepção do brasileiro sobre as condições de violência contra mulher, diz respeito à ideia de que a culpa pela violência sexual sofrida pela mulher reside nela mesma, em particular pelo modo como se veste.
Ao serem perguntados se mulheres que usam roupa mostrando o corpo merecem ser atacadas, nada menos que 65,1% dos entrevistados afirmaram que sim, concordavam total ou parcialmente com a afirmação. Mais ainda. Para 58,2% dos pesquisados, se a mulher soubesse se comportar, haveria menos estupros.
Os números ganharam repercussão nas redes sociais e um movimento #NãoMereçoSerEstuprada iniciado pela jornalista Nana Queiroz ajudou a disseminar o debate, nem sempre com opiniões razoáveis. Segundo Nana, “amanheci de uma noite conturbada. Acreditei na pesquisa do Ipea e experimentei na pele sua fúria. Homens me escreveram ameaçando me estuprar se me encontrassem na rua, mulheres escreveram desejando que eu fosse estuprada”. Nana, no entanto, ganhou reforço de peso na sua luta corajosa. A presidenta Dilma Roussef usou seu twitter para apoiá-la. E mais recentemente personagens como Daniela Mercury emprestaram sua imagem em um nítido apoio ao movimento.
Ao mesmo tempo em que a pesquisa do IPEA ganhou tanta repercussão, uma nota técnica também do instituto, e que infelizmente não ganhou a mesma visibilidade, divulga números essenciais para evidenciar que a percepção da culpabilidade feminina pela agressão sexual sofrida é apenas isso, uma percepção, e está anos luz da brutal realidade, em termos de violência sexual, de fato vivenciada pelas mulheres. O submundo de abusos mostrado por essa nota é bem mais alarmante.
O estudo foi produzido a partir dos dados do Sinan (Sistema de Agravos de Notificação) base gerenciada pelo Departamento de análise de Situação de Saúde, vinculado ao Ministério da Saúde. Em 2011, as notificações tratando de violência doméstica e sexual foram incorporadas ao sistema. Apoiando-se nelas, os pesquisadores debruçaram-se para trazer à tona um diagnóstico que foge do senso comum sobre a violência sexual praticada contra a mulher.
Como já esperado, a quase totalidade das vítimas de abusos sexuais é mulher, sendo 88,5%. Entretanto, um dado valioso, diz respeito à faixa etária. Nada menos que metade das vítimas são crianças até 13 anos de idade. Se somados com jovens e adolescentes de 14 a 17 anos (19,4% do total) crianças e adolescentes perfazem o total de pouco mais de 70% das vítimas. Bem, o que não surpreende é que quase 100% dos agressores sejam homens.


Se 70% dos agredidos são crianças, jovens e adolescentes, cabe uma questão. Onde essa violência ocorre? Se você fez essa pergunta, provavelmente já tem a resposta. É no lar. Dentro de casa. São 79% dos casos entre crianças; 67%, entre adolescentes e 65% dos casos entre adultos. E se você chegou até aqui, saiba que poderá se assustar um pouco mais. Entre crianças, apenas 12,6% dos casos de violência são praticados por desconhecidos. Isso mesmo. Os atos de violência sexual praticados contra criança acontecem na inviolabilidade do lar, por pessoas conhecidas ou muito próximas das vítimas. Os números se distribuem do seguinte modo: em 11,8% dos casos, o agressor é o pai; 12,3%, o padrasto; 7,1%, namorado; por fim, 32,2% amigo.
Ou seja, o perigo não mora ao lado mas, literalmente, dentro de casa. Se somados, parentes, amigos e conhecidos são 63,4% dos agressores de crianças. Não custa lembrar, metade das vítimas.
Naturalmente, não se pode dizer que crianças se vistam de um modo provocativo ou tenham comportamento sedutor a tal ponto que leve as pessoas mais próximas a elas a distúrbios emocionais que resultem em um impulso para a prática de violência sexual. Tudo isso se torna estarrecedor, porque essas vítimas podem sofrer violência durante anos a fio, sem a possibilidade de manifestação do seu martírio.
Isso significa que a resposta positiva dos brasileiros sobre roupas ou comportamentos como determinantes do estupro está calcada numa terrível ignorância que, se por um lado esconde a realidade tal como é, também serve de conveniente sonífero. Sua função é evitar que nossa sociedade se depare com uma visão terrível: há um mundo de mutilação física e psicológica acontecendo debaixo de nossos tetos, envolvendo maridos, ex-maridos, amantes, amigos, conhecidos, e não sabemos absolutamente o que fazer. Parodiando Zé Geraldo, tudo isso acontecendo e a gente aqui na praça dando milho aos pombos.
O estudo conclui com outro dado igualmente assustador. Estima-se que mais de meio milhão de pessoas são estupradas no Brasil anualmente. Dessas, apenas 10% dos casos chegam à polícia. As razões para isso devem ser evidentes, dado que o aparato policial não está preparado para lidar de forma humana com essas mulheres. Os números desse estudo deveriam ser mais aprofundados e deveriam articular entes públicos e a sociedade para enfrentar e quebrar, de forma corajosa, esse pacto de silêncio que insiste em vitimizar todos nós.

Fonte: http://www.cartacapital.com.br/blogs/outras-palavras/estupro-onde-mora-o-perigo-6452.html

quinta-feira, 27 de março de 2014

ANISTIA INTERNACIONAL DENUNCIA O AUMENTO DE EXECUÇÕES DE PENA DE MORTE


ONG registra ao menos 778 execuções em 2013, crescimento de 15% em relação ao ano anterior. Número não inclui a China, onde milhares são executados anualmente


O caminho para o fim da pena de morte no mundo sofreu "alguns difíceis retrocessos" em 2013, conclui o mais recente relatório da Anistia Internacional, divulgado nesta quinta-feira 27. A ONG contabiliza ao menos 778 pessoas executadas em 22 nações, aumento de 15% em relação a 2012, um "acréscimo significativo".
Como em anos anteriores, esse número não inclui "as milhares de pessoas" executadas na China, onde a pena de morte é tida como segredo de Estado, não havendo estimativas confiáveis que possam ser utilizadas, destaca a organização internacional de defesa dos direitos humanos.
Excluindo a China, cerca de 80% das execuções registradas no mundo ocorreram em apenas três países: Irã, Iraque e Arábia Saudita. A Anistia também não conseguiu confirmar se houve execuções judiciais no Egito e na Síria. Em 2013, o número total de países que aplicaram a pena de morte subiu para 22, um a mais do que em 2012.
Novela pode levar à morte
Num gráfico com perguntas e respostas criado pela Anistia Internacional para divulgar o relatório nas redes sociais, os internautas ficam sabendo que tanto corrupção como adultério, tráfico de drogas e até mesmo assistir a uma telenovela proibida podem levar a essa punição extrema. Tudo depende das circunstâncias culturais, religiosas e políticas ou mesmo do governante de um determinado país.
O exemplo da novela proibida vem da Coreia do Norte. Mas a Anistia Internacional não dispõe de informações confiáveis sobre o número de penas de morte decretadas anualmente no país. Segundo a organização, no país é difícil até mesmo saber se uma execução é consequência de uma condenação judicial ou se a pessoa simplesmente foi morta pelo aparelho estatal. A Anistia Internacional reitera que só publica números baseados em fontes oficiais ou em informações verificáveis.
China lidera lista de países que mais executam
Nenhum país do mundo é tão fechado para o mundo externo como a Coreia do Norte. Mas há outros países que também não divulgam dados sobre a pena de morte e sobre os quais só existem estimativas. "O exemplo mais gritante é a China, onde milhares de pessoas são executadas anualmente, segundo avaliações confiáveis. Mas isso é mantido em sígilo tão estrito que não podemos divulgar números específicos."
A Anistia Internacional sequer pode avaliar se na China houve mais execuções em 2013 do que nos anos anteriores. Se, por exemplo, os jornais e sites chineses relatarem mais execuções, isso pode também ser atribuído a relaxamentos na censura à imprensa. Mesmo sem cifras concretas, a China lidera a lista dos cinco países onde há mais execuções, seguida de Irã, Iraque, Arábia Saudita e dos Estados Unidos.
Listas como essa são criticadas por especialistas em estatística, pois a China também tem muito mais habitantes do que os outros países. Mas a Anistia argumenta renunciar conscientemente a uma lista de países ordenada por uma "taxa média anual de execuções por habitantes".
Tendências negativas e positivas
A intenção do relatório, afirma a ONG, é principalmente apontar tendências de curto e longo prazos. "É perturbador que no último ano tenha havido significativamente mais execuções no Iraque e no Irã. Isso levou ao aumento no número total de execuções. Mas em outros países há um progresso a ser relatado, embora mais lento do que nos anos anteriores", afirma o porta-voz Ferdinand Muggenthaler.
Até 1977, apenas 19 países haviam abolido a pena de morte. Hoje são 98. E um total de 140 países − dois terços de todos os Estados – deixaram de aplicar a punição. "Na Somália também houve um aumento do número de execuções. Mas isso é um desenvolvimento isolado, mesmo na África. No continente, Benin, Gana, Libéria e Serra Leoa adotaram medidas para abolir a pena de morte."
Sentença controversa no Egito
A Anistia Internacional luta pela abolição da pena de morte e para que haja pelo menos processos justos, com oportunidade de defesa e revisão para os réus, nos países onde ela ainda é praticada. Mas isso também ainda está longe de ser realidade em todos os Estados, ressalta Muggenthaler. "O exemplo mais flagrante da atualidade é o Egito."
No país, um juiz condenou à morte, num processo sumário, 529 integrantes da Irmandade Muçulmana por suposto envolvimento em motins e assassinatos de policiais. O porta-voz da Anistia se nega a acreditar que o veredicto realmente venha a ser executado. "Essa sentença é realmente grotesca e chocante, mas, infelizmente, observa-se uma tendência no sistema legal egípcio em que o Judiciário é cada vez mais influenciado pelo Executivo."
O aumento da radicalização religiosa e conflitos violentos dificultam o desenvolvimento de um ambiente social que permita o abandono da pena de morte e de sua execução em muitos Estados. Mas Muggenthaler continua confiante.
"Há também países islâmicos que aboliram a pena de morte nos últimos anos. Há um desenvolvimento positivo, por exemplo, na Tunísia", lembra. E também no Egito muitas pessoas são contra decisões despóticas por parte do sistema judiciário. "Temos que apostar nessas pessoas. E acho que o exterior também pode exercer uma certa influência. Por isso, não vamos desistir tão facilmente."
FONTE: http://www.cartacapital.com.br/internacional/anistia-internacional-denuncia-aumento-de-execucoes-de-pena-de-morte-4089.html

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

AI QUE PREGUIÇA... SAIA DO SEDENTARISMO JÁ.

O corpo humano é uma máquina desenhada para o movimento.
É dotado de dobradiças, músculos que formam alavancas capazes de deslocar o esqueleto em qualquer direção, ossos resistentes, ligamentos elásticos que amortecem choques e sistemas de alta complexidade para mobilizar energia, consumir oxigênio e manter a temperatura interna constante.
Em 6 milhões de anos, a seleção natural se encarregou de eliminar os portadores de características genéticas que dificultavam a movimentação necessária para ir atrás de alimentos, construir abrigos e fugir de predadores.
Se o corpo humano fosse projetado para os usos de hoje, para que pernas tão compridas e braços tão longos? Se é só para ir de um assento a outro, elas poderiam ter metade do comprimento. Se os braços servem apenas para alcançar o teclado do computador, para que antebraços? Seríamos anões de membros atrofiados, mas com um traseiro enorme, acolchoado, para nos dar conforto nas cadeiras.


A possibilidade de ganharmos a vida sem andar é aquisição dos últimos 50 anos. A disponibilidade de alimentos de qualidade acessíveis a grandes massas populacionais, mais recente ainda. A mesa farta e as comodidades em que viviam os nobres da Antiguidade estão ao alcance da classe média, em condições de higiene bem superiores.
Para quem já morou em cavernas, a adaptação a um meio com vacinas, saneamento básico, antibióticos, alimentação rica em nutrientes e tecnologia para fazer chegar em nossas mãos tudo de que necessitamos foi imediata. Em boa parte dos países, a expectativa de vida atingiu 70 anos, privilégio de poucos no tempo de nossos avós.
Os efeitos adversos desse estilo de vida, no entanto, não demoraram para surgir: sedentarismo, obesidade e seu cortejo nefasto: complicações cardiovasculares, diabetes, câncer, degenerações neurológicas, doenças reumáticas e muitas outras.
Se todos reconhecem que a atividade física faz bem para o organismo, por que ninguém se exercita com regularidade?
Por uma razão simples: descontadas as brincadeiras da infância, fase de aprendizado, nenhum animal desperdiça energia. Só o fazem atrás de alimento, sexo ou para escapar de predadores. Satisfeitas as três necessidades, permanecem em repouso até que uma delas volte a ser premente.
Vá ao zoológico. Você verá uma onça dando um pique para manter a forma? Um chimpanzé -com quem compartilhamos 99% de nossos genes- correndo para perder a barriga?
É tão difícil abandonar a vida sedentária porque desperdiçar energia vai contra a natureza humana. Os planos para andar, correr ou ir à academia naufragam no dia seguinte sob o peso dos 6 milhões de anos de evolução, que desaba sobre nossos ombros.
Quando você ouvir alguém dizendo que pula da cama louco de disposição para o exercício, pode ter certeza: é mentira. Essa vontade pode nos visitar num sítio ou na praia com os amigos, na rotina diária jamais.
Digo por experiência própria. Há 20 anos corro maratonas, provas de 42 quilômetros que me obrigam a levantar às cinco e meia para treinar. Tenho tanta confiança na integridade de meu caráter que fiz um trato comigo mesmo: ao acordar, só posso desistir de correr depois de vestir calção, camiseta e calçar o tênis.
Se me permitir tomar essa decisão deitado na cama, cada manhã terei uma desculpa. Não há limite para as justificativas que a preguiça é capaz de inventar nessa hora.
Ao contrário do que os treinadores preconizam, não faço alongamento antes, já saio correndo, única maneira de resistir ao ímpeto de voltar para a cama. O primeiro quilômetro é dominado por um pensamento recorrente: "Não há o que justifique um homem a passar pelo que estou passando".
Vencido esse martírio inicial, a corrida se torna suportável. Boa mesmo, só fica quando acaba. Nessa hora, a circulação inundada de endorfinas traz uma sensação de paz celestial, um barato igual ao de drogas que nunca experimentei.

Por isso, caro leitor, se você está à espera da chegada da disposição física para sair da vagabundagem em 2014, tire o cavalo da chuva: ela não virá. Praticar exercícios com regularidade exige disciplina militar, a mesma que você tem na hora de ir para o trabalho. 


Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/drauziovarella/2014/01/1396329-ai-que-preguica.shtml






drauzio varella
Drauzio Varella é médico cancerologista. Por 20 anos dirigiu o serviço de Imunologia do Hospital do Câncer. Foi um dos pioneiros no tratamento da Aids no Brasil e do trabalho em presídios, ao qual se dedica ainda hoje. É autor do livro 'Estação Carandiru' (Companhia das Letras). Escreve aos sábados, a cada duas semanas.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

O BRASIL ESTÁ CERTO AO INVESTIR EM CUBA? TIRE SUAS CONCLUSÕES...

Causou certa indignação em determinados setores da sociedade brasileira a inauguração do porto de Mariel, em Cuba, na segunda-feira 27, com a presença de Dilma Rousseff. O espanto se deu por que a obra foi erguida graças a um financiamento do BNDES, que data ainda do governo Lula. Atribui-se o investimento a uma aliança ideológica entre os governos petistas e a família Castro, responsável pela ditadura na ilha. É um equívoco ver o empréstimo desta forma. Trata-se de um ato pragmático do Brasil.
Dilma Rousseff e Raúl Castro
O porto de Mariel é um colosso. Ele é considerado tão sofisticado quanto os maiores terminais do Caribe, os de Kingston (Jamaica) e de Freeport (Bahamas), e terá capacidade para receber navios de carga do tipo Post-Panamax, que vão transitar pelo Canal do Panamá quando a ampliação deste estiver completa, no ano que vem. A obra, erguida pela Odebrecht em parceria com a cubana Quality, custou 957 milhões de dólares, sendo 682 milhões de dólares financiados pelo BNDES. Em contrapartida, 802 milhões de dólares investidos na obra foram gastos no Brasil, na compra de bens e serviços comprovadamente brasileiros. Pelos cálculos da Odebrecht, este valor gerou 156 mil empregos diretos, indiretos e induzidos no País.
A obra “se pagou”, mas o interesse do Brasil vai além disso. Há quatro aspectos importantes a serem analisados.
O primeiro foi exposto por Dilma no discurso feito em Cuba. O Brasil quer, afirmou ela, se tornar “parceiro econômico de primeira ordem” de Cuba. As exportações brasileiras para a ilha quadruplicaram na última década, chegando a 450 milhões de dólares, alçando o Brasil ao terceiro lugar na lista de parceiros da ilha (atrás de Venezuela e China). A tendência é de alta se a população de Cuba (de 11 milhões de pessoas), hoje alijada da economia internacional, for considerada um mercado em potencial para empresas brasileiras.
Esse mercado só será efetivado, entretanto, se a economia cubana deixar de funcionar em seu modo rudimentar atual. Como afirmou o subsecretário-geral da América do Sul do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Antonio José Ferreira Simões, o modelo econômico de Cuba precisa “de uma atualização”. O porto de Mariel é essencial para isso, pois será acompanhado de uma Zona Especial de Desenvolvimento Econômico criada nos moldes das existentes na China. Ali, ao contrário do que ocorre no resto do país, as empresas poderão ter capital 100% estrangeiro. Dono de uma relação favorável com Cuba, o Itamaraty está buscando, assim, completar uma de suas funções primordiais: mercado para as empresas brasileiras. Não é à toa, portanto, que o Brasil abriu uma nova linha de crédito, de 290 milhões de dólares, para a implantação desta Zona Especial em Mariel.
Aqui entra o terceiro ponto, a localização de Mariel. O porto está a menos de 150 quilômetros do maior mercado do mundo, o dos Estados Unidos. Ainda está em vigor o embargo norte-americano a Cuba, mas ele é insustentável a longo prazo. “O embargo não vai durar para sempre e, quando cair, Cuba será estratégica para as companhias brasileiras por conta de sua posição geográfica”, disse à Reuters uma fonte anônima do governo brasileiro. Tendo em conta que a população cubana ainda consistirá em mão de obra barata para as empresas ali instaladas, fica completo o potencial comercial de Mariel.
Há ainda um quarto ponto. Ao transformar Cuba em parceira importante, o Brasil amplia sua área de influência nas Américas em um ponto no qual os Estados Unidos não têm entrada. A administração Barack Obama é favorável ao fim do embargo, como deixou claro o presidente dos EUA em novembro passado, quando pediu uma “atualização” no relacionamento com Cuba. Ocorre que a Casa Branca não tem como derrubar o embargo atualmente diante da intensa pressão exercida no Congresso pela bancada latina, em sua maioria linha-dura. No vácuo dos EUA, cresce a influência brasileira.
Grande parte das críticas ao relacionamento entre Brasília e Cuba ataca o governo brasileiro por se relacionar com uma ditadura que não respeita direitos humanos. Tal crítica tem menos análise de política externa do que ranço ideológico, como prova o silêncio quando em destaque estão as relações comerciais do Brasil com a China, por exemplo. Não há, infelizmente, notícia de um Estado que paute suas relações exteriores pela questão de direitos humanos. Se a regra fosse essa, possivelmente o mundo não seria a lástima que é.
Soma-se a isso o fato de que manter boas relações com Cuba é uma prática do Estado brasileiro, não do governo atual. As relações Brasília-Havana foram reatadas em 1985 e têm melhorado desde então. Em 1992, no governo Fernando Collor, houve uma tentativa de trocar votos em eleições para postos em organizações internacionais. A prática, como a Folha de S.Paulomostrou em 2011, continuou no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), sob o qual o Brasil também fechou parcerias e intercâmbios com Cuba.
De fato, em 1998 o então chanceler de FHC, Luiz Felipe Lampreia, se encontrou com um importante dissidente cubano, Elizardo Sánchez, algo que o governo brasileiro parece muito distante de fazer. Pode-se, e deve-se, criticar o fato de o Planalto sob o PT não condenar publicamente as violações de direitos humanos da ditadura castrista, mas não se pode condenar o investimento no porto de Mariel. Neste caso, prevaleceu o interesse nacional brasileiro.
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/internacional/por-que-o-brasil-esta-certo-ao-investir-em-cuba-1890.html