quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

ALTERAÇÕES NO PIB DOS ESTADOS BRASILEIROS



PIB dos municípios 2010 (Foto: Editoria de Arte/G1)
O alto preço das commodities minerais em 2010 fez com que capitais como Rio e São Paulo perdessem lugar na participação do PIB nacional em relação a 2009. Sem indústria extrativista, com uma indústria de transformação estagnada e tendo nos serviços o suporte da economia, as capitais perderam para municípios produtores de minério de ferro e manganês, que  aumentaram sua participação no PIB em 2010, segundo os dados divulgados na manhã desta quarta-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Paraupebas, no Pará, Itabira e Ouro Preto, em Minas Gerais, cidades produtoras de minério de ferro, aumentaram sua participação nas contas nacionais em 0,2% e 0,1% respectivamente, segundo Sheila Zani, gerente da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, enquanto que o Rio teve um recuo de 0,2% e São Paulo 0,3%.
Segundo Sheila, a participação das capitais na composição do PIB nacional – que em 1999, quando o IBGE iniciou a pesquisa, chegava a quase 39% – a partir de 2003 estabilizou-se em 34%, por conta da valorização das commodities.
“Enquanto o estado do Rio mostra estabilidade na indústria, o município teve perda do valor adicionado do setor industrial. A indústria que cresce é a extrativa, que floresce no estado, mas não no município.São Paulo passa pela mesma situação”, explicou Sheila.
Embora com menos força que as minerais, as commodities agrícolas também tiraram espaço das capitais na composição do PIB. Os destaques são Cristalina, em Goiás, com uma agricultura diversificada que inclui café, trigo, alho e feijão; Petrolina, em Pernambuco, cuja cultura irrigada permite boas safras de uva, goiaba e manga, que por sua vez se beneficiaram do alto preço no mercado, principalmente a uva.
Produtores de algodão, milho e soja como São Desidério, na Bahia, Uberaba, em Minas, e Rio verde, em Goiás, também apresentaram as maiores participações no valor adicionado da agricultura.

Administração pública e serviçosSegundo Sheila, o peso da adminsitração pública no PIB em 2010 era superior a um terço em 35,6% dos municípios brasileiros (1.980 municípios). Segundo a pesquisa do IBGE, Norte e Nordeste concentram municípios com grande dependência da máquina administrativa. O setor de serviços corresponde a dois terços da formação do PIB nacional e, nesse segmento, as maiores participações são das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.  
Sheila Zani, gerente da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE (Foto: Lilian Quaino/G1)Sheila Zani, gerente da Coordenação de Contas
Nacionais do IBGE (Foto: Lilian Quaino/G1)
54 cidades concentram 50% do PIBApenas 54 municípios – dos cerca de 5,5 mil existentes no Brasil – concentravam cerca de 50% do PIB do país em 2010, segundo o IBGE. Na outra ponta, outras 1.325 cidades, juntas, detinham 1% do total.
“Nesta faixa, estavam 75% dos municípios doPiauí, 61,4% dos municípios da Paraíba, 50,9% dos municípios do Rio Grande do Norte e 48,9% dos municípios do Tocantins”, aponta o estudo do IBGE.
Somados, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília concentraram 20,8% dos R$ 3,77 trilhões do PIB daquele ano. A fatia, no entanto, foi menor que no ano anterior: em 2009, os três municípios foram responsáveis por 21,4% do PIB. A participação de São Paulo – que seguiu no primeiro lugar do ranking dos maiores PIBs do país –, caiu de 12% para 11,8%; do Rio, de 5,3% para 5%; e de Brasília, de 4,1% para 4%.
No ranking dos seis municípios que mais geraram renda em 2010 estão ainda Curitiba e Belo Horizontex, com 4,1% cada, e Manaus, com 1,3%. Juntos, os seis responderam por 25% de todo o PIB brasileiro naquele ano.
Menores PIBs
Na outra ponta, dois municípios do Piauí registraram os menores PIBs do país em 2010: Santo Antônio dos Milagres, com R$ 7,2 milhões, e Miguel Leão, com R$ 8,8 milhões. São Félix doTocantins (TO), Viçosa (RN) e Quixabá (PB) completam a lista dos cinco menores
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Fonte: http://g1.globo.com/economia/noticia/2012/12/commodities-fizeram-rio-e-sp-perder-lugar-na-composicao-do-pib-diz-ibge.html

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

7 conflitos atuais causados por diferenças religiosas


Por Jessica Soares
Colaboração para a SUPERINTERESSANTE
Depois da II Guerra Mundial, a ONU adotou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que colocava em pauta o “respeito universal e observância dos direitos humanos e liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião”. O ideal foi reforçado em 1999, ano em que líderes budistas, protestantes, católicos, cristãos ortodoxos, judeus, muçulmanos e de várias outras religiões se reuniram para assinar o Apelo Espiritual de Genebra. O documento pedia aos líderes políticos e religiosos algo simples: a garantia de que a religião não fosse mais usada para justificar a violência.
Passados muitos anos e outras muitas tentativas de garantir a liberdade religiosa, grande parte dos conflitos que hoje acontecem no mundo ainda envolve crenças e doutrinas, que se misturam a uma complexa rede de fatores políticos, econômicos, raciais e étnicos. De “A a T”, conheça sete conflitos atuais que têm, entre suas motivações, a intolerância religiosa:
1. Afeganistão
Grupos em conflito: fundamentalistas radicais muçulmanos e não-muçulmanos
O Afeganistão é um campo de batalhas desde a época em que Alexandre, o Grande, passava por lá, em meados de 300 a.C. Atualmente, dois grupos disputam o poder no país, em um conflito que se desenrola há anos. De um lado está o Talibã, movimento fundamentalista islâmico que governou o país entre 1996 e 2001. Do outro lado está a Aliança do Norte, organização político-militar que une diversos grupos demográficos afegãos que buscam combater o Regime Talibã.
Após os atentados de 11 de setembro de 2001, a Aliança do Norte passou a receber o apoio dos Estados Unidos, que invadiram o Afeganistão em busca do líder do Al-Qaeda, Osama Bin Laden, estabelecendo uma nova república no país. Em 2011, americanos e aliados comemoraram a captura e morte do líder do grupo fundamentalista islâmico responsável pelo ataque às Torres Gêmeas, mas isso não acalmou os conflitos internos no país, que continua sendo palco de constantes ataques talibãs.
2. Nigéria
Grupos em conflito: cristãos e muçulmanos
Não é apenas o rio Níger que divide o país africano: a população nigeriana, de aproximadamente 148 milhões de habitantes, está distribuída em mais de 250 grupos étnicos, que ocuparam diferentes porções do país ao longo dos anos, motivando constantes disputas territoriais. Divididos espacialmente e ideologicamente estão também os muçulmanos, que vivem no norte da Nigéria, e cristãos, que habitam as porções centro e sul. Desde 2002, conflitos religiosos têm se acirrado no país, motivados principalmente pela adoção da sharia, lei islâmica, como principal fonte de legislação nos estados do norte. A violência no país já matou mais de 10 mil pessoas e deixou milhares de refugiados.
3. Iraque
Grupos em conflito: xiitas e sunitas
Diferentes milícias, combatentes e motivações se misturam no conflito que tem lugar em território iraquiano. Durante os anos de 2006 e 2008, a Guerra do Iraque incluía conflitos armados contra a presença do exército dos Estados Unidos e também violências voltadas aos grupos étnicos do país. Mas a retirada das tropas norte-americanas, em dezembro de 2011, não cessou a tensão interna. Desde então, grupos militantes têm liderado uma série de ataques à maioria xiita do país. O governo iraquiano estima que, entre 2004 e 2011, cerca de 70 mil pessoas tenham sido mortas.
4. Israel
Grupos em conflito: judeus e mulçumanos
Em 1947, a ONU aprovou a divisão da Palestina em um Estado judeu e outro árabe. Um ano depois, Israel foi proclamado país. A oposição entre as nações árabes estourou uma guerra, que, com o crescimento do território de Israel, deixou os palestinos sem Estado. Como tentativa de dar fim à tensão, foi assinado em 1993 o Acordo de Oslo, que deu início às negociações para criação de um futuro Estado Palestino. Tudo ia bem até chegar a hora de negociar sobre a situação da Cisjordânia e da parte oriental de Jerusalém – das quais nem os palestinos nem os israelenses abrem mão.
Na Palestina, as eleições parlamentares de 2006 colocaram no poder o grupo fundamentalista islâmico Hamas. O grupo é considerado uma organização terrorista pelas nações ocidentais e fracassou em formar um governo ao lado do Fatah – partido que prega a reconciliação entre palestinos e israelenses. O Hamas assumiu o poder da Faixa de Gaza. E o Fatah chegou ao da Cisjordânia, em conflitos que se prolongaram até fevereiro de 2012, quando os dois grupos fecharam um acordo para a formação de um governo. Mas segundo o site da Al Jazeera, rede de notícias do Oriente Médio, a rixa continua. Eleições parlamentares e presidenciais serão conduzidas nos dois territórios e a tensão internacional permanece pela possibilidade do Hamas voltar a vencer no processo eleitoral.
5. Sudão
Grupos em conflito: muçulmanos e não-muçulmanos
A guerra civil no Sudão já se prolonga há mais de 46 anos. Estima-se que os conflitos, que misturam motivações étnicas, raciais e religiosas, já tenham deixado mais de 1 milhão de sudaneses refugiados. Em maio de 2006 o governo e o principal grupo rebelde, o Movimento de Libertação do Sudão, assinaram o Acordo de Paz de Darfur, que previa o desarmamento das milícias árabes, chamadas janjawid, e visava dar fim à guerra. No mesmo ano, no entanto, um novo grupo deu continuidade àquela que foi chamada de “a pior crise humanitária do século” econsiderada genocídio pelo então secretário de estado norte-americano Colin Powell, em 2004.
6. Tailândia
Grupos em conflito: budistas e mulçumanos
Um movimento separatista provoca constantes e violentos ataques no sul da Tailândia e criou uma atmosfera de suspeita e tensão entre muçulmanos e budistas. Apesar dos conflitos atingirem os dois grupos, eles representam parcelas bastante desiguais do país: segundo dados do governo tailandês, quase 90% da população do país é budista e cerca de 10% muçulmana.
7. Tibete
Grupos em conflito: Partido Comunista da China e budistas
A regulação governamental aos monastérios budistas teve início quando o Partido Comunista da China marchou rumo ao Tibete, assumindo o controle do território e anexando-o como província, em 1950. Mais de meio século se passou desde a violenta invasão, que matou milhares de tibetanos e causou a destruição de quase seis mil templos, mas a perseguição religiosa permanece. Um protesto pacífico iniciado por monges em 2008 deu início a uma série de protestos no território considerado região autônoma da República Popular da China.

sábado, 24 de novembro de 2012

CESSAR-FOGO É VITÓRIA DO HAMAS A CURTO PRAZO



O cessar-fogo entre Israel e o Hamas, mediado pelos Estados Unidos e pelo Egito, pode se tornar, a médio prazo, uma vitória importante para o grupo palestino. Ainda não é possível dizer se a trégua iniciada às 17 horas desta quarta-feira 21 será mantida, e nem por quanto tempo, mas caso os itens previstos no documento divulgado pelo governo egípcio sejam cumpridos, o Hamas sairá desta crise menos isolado diplomaticamente e mais forte entre os palestinos, pois será capaz de dizer que rompeu o bloqueio imposto por Israel há cinco anos. A implementação do cessar-fogo, no entanto, é que vai determinar a “vitória” do Hamas.
Pelo acordo firmado, Israel deve cessar todos os ataques por terra, ar e mar contra a Faixa de Gaza, incluindo os “assassinatos cirúrgicos”, como o que matou Ahmed Jabari, líder do braço militar do Hamas, na semana passada. Em troca, o Hamas precisa garantir que todos os grupos militantes da Faixa de Gaza parem os ataques na região da fronteira. Não será uma missão fácil. O Hamas e a Jihad Islâmica, segundo grupo mais importante de Gaza, devem parar automaticamente os lançamentos de foguetes, mas o Hamas precisará garantir que outras facções, ainda mais radicais, façam o mesmo. Como muitos desses grupos vinham desafiando o papel do Hamas na “resistência” a Israel (ao realizar ataques contra militares e cidades israelenses), é provável que a liderança exercida pelo grupo nos últimos dias sirva para acalmar esses setores mais radicais.
Com a bandeira do Egito, que mediou o cessar-fogo, palestinos celebram a trégua na cidade de Gaza, nesta quarta-feira 21. Foto: Mahmud Hams / AFP














Caso o cessar-fogo seja mantido pelas duas partes, às 17 horas desta quinta-feira 22 devem ter início as negociações a respeito da “abertura das passagens (na fronteira), da facilitação de movimento de pessoas, transferência de mercadorias e restrição de movimento de residentes” na Faixa de Gaza.
Na prática, a implementação dessas medidas significa colocar fim ao bloqueio mantido por Israel contra a Faixa de Gaza desde 2007, quando o Hamas tomou o controle da região. Ao longo do tempo, Israel vem reduzindo as restrições do bloqueio, mas ele continua em vigor. Esse cerco é condenado internacionalmente, até mesmo por aliados de Israel, como os Estados Unidos e o Reino Unido.
Esta posição ficou clara nas palavras de Hillary Clinton, secretária de Estado dos Estados Unidos, ao anunciar o cessar-fogo. Hillary lembrou que, além de garantir a segurança da população de Israel, é preciso “melhorar as condições da população de Gaza”. O ministro do Exterior do Reino Unido, William Hague, seguiu na mesma direção de Hillary. “A prioridade agora é lidar com as causas do conflito, incluindo um acesso maior ao comércio para e de Gaza, assim como de assistência humanitária, e um fim ao contrabando de armas”, afirmou. A constatação desses países é simples: ao isolar a Faixa de Gaza, Israel fortaleceu o Hamas, radicalizou ainda mais a população local e piorou as condições de vida na Faixa de Gaza. Ainda que a intenção do fim do bloqueio seja enfraquecer o Hamas, o grupo radical poderá apresentar aos palestinos a liberação como uma conquista.
Este feito, se concretizado, será particularmente importante pois aumentará a legitimidade do Hamas entre os palestinos, não apenas em Gaza, mas também na Cisjordânia, controlada pelo Fatah, grupo secular opositor do Hamas. O Fatah ficou isolado durante os últimos dias e pouco participou das negociações para o cessar-fogo, perdendo espaço para o Hamas como líder da causa palestina. No fim do mês, o líder do Fatah, Mahmoud Abbas, deve apresentar na ONU um pedido de reconhecimento da Palestina como Estado não-membro, mas é grande a pressão para que ele desista.
Para celebrar a vitória, o Hamas terá um grande desafio durante a implementação do acordo. Hoje, grande parte dos armamentos do grupo palestino são oriundos do Irã e chegam por meio da Península do Sinai, uma região do Egito que faz fronteira com a Faixa de Gaza e com o sul de Israel, sobre a qual o governo egípcio tem pouquíssimo controle. O cessar-fogo exige, como contrapartida ao fim do bloqueio, que o contrabando de armamentos pela região seja combatido. Estados Unidos e Egito devem trabalhar juntos neste aspecto, mas ainda não se sabe como e se o fim do tráfico será efetivo. O Hamas pode encarar o enfraquecimento de seu arsenal como um avanço ruim, mas precisará escolher o que deseja. Israel não vai reduzir o bloqueio e manter abertas as portas do contrabando de armas.

Para o governo de Israel, apresentar a promessa de combater o tráfico de armas para Gaza como uma vitória após oito dias de conflito é uma tarefa difícil. A desconfiança a respeito do Hamas é enorme na sociedade israelense. Uma pesquisa do Canal 2 de Israel levada ao ar após o anúncio da trégua apontou que 70% da população era contra o cessar-fogo. Dois ministros de Netanyahu, Yuval Steinitz (Finanças) e Eli Yishai (Interior), eram contra o cessar-fogo, assim como líderes opositores, como Shaul Mofaz e Tzipi Livni, ambos do centrista Kadima.

Por isso, as três principais autoridades de Israel, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e seus ministros Ehud Barak (Defesa) e Avigdor Lieberman (Exterior), tentaram retratar a operação dos últimos dias como um sucesso militar. Em pronunciamento, eles disseram que a infraestrutura do Hamas foi destruída e trataram como triunfo a morte de Ahmed Jabari. “Sei que há cidadãos esperando uma operação militar mais intensa, mas agora a coisa certa para o Estado de Israel é aproveitar a oportunidade de um cessar-fogo duradouro”, disse Netanyahu. O primeiro-ministro pode ter razão. Netanyahu fomentou o confronto com o Hamas para se aproveitar do sentimento de união da sociedade israelense tendo em vista as eleições de janeiro. Sua imagem de líder duro saiu fortalecida e, caso o cessar-fogo tenha efeito, ele fará questão de lembrar que a trégua garantiu a segurança da população do sul de Israel, alvo dos foguetes palestinos. Caso contrário, Netanyahu estará pronto para retomar a ofensiva com uma fúria ainda maior.
Todos esses ganhos de curto e médio prazo para o Hamas podem assustar quem teme o grupo. Eles não necessariamente significam uma avanço positivo para a paz entre israelenses e palestinos, mas podem ser o início de um processo de longo prazo. O Hamas está menos isolado e mais influenciado por líderes regionais moderados, como Egito e Turquia, mas continua a ser um grupo antissemita, que rejeita a existência de Israel e todos os acordos para a paz assinados até hoje. Esta postura é um entrave muito grande para a retomada do processo de paz e, caso persista, continuará a dar razão ao governo de Israel, que rejeita negociações diretas com o grupo palestino. Nos próximos dias, o Egito, com apoio dos Estados Unidos, vai intermediar o diálogo entre Israel e Hamas. Os desafios são enormes. Além de tentar moderar o Hamas, rompendo a lógica perversa que alimenta o radicalismo dos dois lados, será preciso sustentar os esforços para a paz por um bom tempo e manter o ímpeto dos negociadores. Em tempos normais, já seria complicado. Diante do pedido de reconhecimento na ONU, das eleições em Israel, da instabilidade interna do Egito, da crise na Síria e mesmo da situação precária da economia mundial, o desafio será maior ainda. Por isso, todo o ceticismo é recomendável.
FONTE: http://www.cartacapital.com.br/internacional/cessar-fogo-e-vitoria-do-hamas-a-curto-prazo/

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

POPULAÇÃO MUNDIAL: O QUE PENSA A ONU?



Em outubro de 2011, a ONU anunciou que a humanidade tinha atingido a marca de sete bilhões de pessoas. Oito meses depois, em junho, a mesma entidade revelou que 222 milhões de mulheres no mundo querem evitar a gravidez, mas não têm acesso a métodos contraceptivos modernos. Dessas, 162 milhões estão nos 69 países mais pobres do mundo, especialmente em áreas rurais.
Para o diretor-executivo do Fundo de Populações das Nações Unidas, o nigeriano Babatunde Osotimehin, isso mostra que a demografia não é um destino. Em entrevista à Folha, ele defendeu a importância de garantir às mulheres meios de decidir se e quando ter filhos como forma de desacelerar o crescimento populacional e dar mais qualidade de vida para as pessoas. Mas alertou: apenas a redução da taxa de natalidade não será suficiente para garantir o desenvolvimento sustentável do planeta.
Leia os principais trechos da entrevista:
Folha - Muitos estudos científicos mostram que estamos ultrapassando vários limites do planeta, ao mesmo tempo em que a população mundial cresce em ritmo acelerado. Que tipo de perspectiva essas duas realidades trazem para a humanidade?
Babatunde Osotimehin - Quando se fala dos desafios ambientais e das mudanças climáticas, a resposta não está apenas no crescimento populacional. Neste exato momento em que conversamos, a parte do mundo que está contribuindo com a maior pegada de carbono não é o mundo em desenvolvimento, onde a população cresce. É muito importante ter isso em mente. Por outro lado, nesses locais onde a população está crescendo a aspiração é chegar à classe média e ter um consumo similar ao que existe no mundo desenvolvido hoje. Por isso precisamos de um novo paradigma para tratar dessa questão, por isso se fala tanto na economia verde.
De qualquer forma, desacelerar o crescimento da população parece importante...
Sim, e para isso é fundamental dar condições para mulheres e meninas fazerem suas próprias escolhas. É preciso assegurar que elas tenham acesso aos serviços de saúde reprodutiva, especialmente ao planejamento familiar, para que possam optar por ter apenas o número de filhos de que possam cuidar. Isso fará diferença não apenas para as mulheres, mas também para os orçamentos domésticos e para os países.
O que o senhor achou do fato de que, por pressão do Vaticano, a menção aos direitos reprodutivos femininos acabou excluída do documento final da Rio+20 [Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, que ocorreu em junho no Rio]?
Eu prefiro ver o copo meio cheio, não meio vazio. Quando o primeiro rascunho do documento foi divulgado, ele sequer mencionava a palavra saúde [a redação final fez menção à saúde reprodutiva]. Então trilhamos um longo caminho até aqui. E o documento final reitera a agenda que resultou da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, a agenda do Cairo. Isso significa que os direitos reprodutivos estão citados de forma implícita.
Quando se fala dos problemas ligados ao crescimento da população, muita gente os associa às previsões de Malthus [que dizia que a expansão da produção de alimentos não iria acompanhar o ritmo de expansão da população e aconselhava a abstinência sexual para diminuir a natalidade]. O senhor vê similaridades?
O malthusianismo não tem nada a ver com as discussões atuais. O jeito que abordamos a questão do crescimento populacional é diferente. Hoje muitos países têm políticas e programas específicos para o tema. O Brasil é um exemplo. Em 30 anos, o número de filhos por mulher caiu consideravelmente. E o mesmo está acontecendo em muitos outros países. Quanto mais conseguirmos engajar os governos, mais o que aconteceu aqui vai acontecer também em outros lugares.
Relatório recente divulgado pelo UNFPA destaca que a média das projeções populacionais apontam que seremos 10 bilhões ao fim do século, mas há estimativas que chegam a 16 bilhões...
A demografia não é um destino. A questão é o que faremos para não ultrapassar essa projeção média. Precisamos dar o poder de escolha para as mulheres. Mas muitos países no sul global ainda têm uma população muito jovem e assistirão ao crescimento de suas populações. Só que ele não será tão rápido como tem sido se as medidas necessárias forem tomadas.
Por outro lado, o envelhecimento da população também é um problema.
Essa é outra questão que deve ser abordada. Alguns países no mundo já estão elaborando políticas sociais para garantir que a população envelheça com dignidade. Porque isso vai ter consequências nas aposentadorias, nos serviços sociais, no sistema de saúde, na habitação, nos transportes... É algo para o qual não estamos preparados. E claro que esses países também vão perder competitividade. A produtividade vai cair porque eles não vão ter o mesmo contingente de jovens na indústria, nos serviços... Por isso, alguns países já estão fazendo esforços para rejuvenescer suas comunidades. A Dinamarca, por exemplo, conseguiu elevar o número de filhos por mulher, que estava abaixo de 2 e agora está em 2,1 ou 2,2. E isso só foi possível porque criaram uma série de políticas amigáveis para as mulheres, com licenças maternidade mais longas, segurança no trabalho e instalações para crianças nas proximidades dos locais de trabalho. Cada país tem que achar a solução para os seus desafios.
O senhor falou da perda de produtividade decorrente do envelhecimento da população, exatamente num momento em que o mundo precisa aumentar a produtividade para alimentar sua população crescente sem aumentar a pressão sobre recursos naturais. Isso não torna o desafio ainda mais difícil?
Isso nos leva de volta à questão da economia verde. No hemisfério sul há muitos jovens que estão em busca de educação, em busca de empregos, e eles podem ajudar a aumentar a produção de alimentos e de outros bens sem causar desequilíbrios ao meio ambiente. Não podemos esquecer que vivemos em um mundo globalizado, onde muito possivelmente as maçãs que são comidas em Nova York foram produzidas na África do Sul.
E qual o papel que a ciência e a tecnologia terão nesse novo cenário?
Um papel crucial. Em meados dos anos 60, havia uma previsão interessante de um dos maiores pesquisadores do mundo sobre população. Ele dizia que a Índia iria colapsar porque não seria capaz de alimentar sua população em crescimento. Mas a produção de comida na Índia cresceu tremendamente. E as tecnologias para aumentar a produção agrícola vão continuar a fazer diferença no futuro. Tem também a questão da água. Vamos ter que desenvolver tecnologias que nos permitam utilizar a água de forma melhor.
Quando se fala sobre crescimento populacional, o foco sempre está nas mulheres. Claro que são elas que dão à luz os filhos, mas o senhor não acha que deveria haver uma tentativa de envolver mais os homens nessa discussão?
Você está absolutamente correta. Nós sabemos que muitas decisões tomadas tanto no nível macro quanto no micro têm a participação dos homens. Em algumas culturas, até mesmo a decisão de a mulher ir para o hospital ou tomar medicamentos depende do homem. É essencial envolvê-los na discussão.
Em muitos países, questões religiosas e culturais acabam funcionando como uma barreira ao planejamento familiar. Como mudar isso?
Essas questões têm que ser abordadas com base na realidade de cada país. Temos que engajar os governos e as partes interessadas para garantir acesso aos serviços. É preciso fazer um diagnóstico de cada comunidade para ver qual a melhor forma de fazer isso.
E o senhor acha que o aborto deveria ser uma opção para uma mulher que teve uma gravidez indesejada?
O Fundo de População da ONU apoia o que já foi acordado na ONU, de que nos países onde o aborto é legal, ele tem que ser seguro. Mas é importante enfatizar que, se formos capazes de atender as necessidades das mulheres por planejamento familiar, vamos reduzir os abortos, porque elas terão o poder de fazer escolhas antes que seja tarde demais.

fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/1160727-a-demografia-nao-e-um-destino-diz-diretor-do-fundo-de-populacao-da-onu.shtml

Japão investe em energia geotérmica


YUZAWA, Japão - Tarobee Ito, 69, é o guardião de um legado familiar que sobrevive há mais de 12 gerações: ele administra o Tarobee Ryokan, um tradicional "onsen ryokan" (hotel junto a fontes termais) no desfiladeiro de Oyasu.
No mesmo local, perto da cidade de Yuzawa, no norte do Japão, há cerca de uma dúzia de outros estabelecimentos do tipo.
Recentemente, o vapor branco dessas fontes também atraiu planos para a construção de uma usina geotérmica na região, considerada um monumento nacional.
O Japão busca fontes energéticas alternativas -como a geotérmica- desde março do ano passado, quando um tsunami destruiu a usina nuclear de Fukushima Daiichi.
Os 54 reatores atômicos do país foram paralisados, e só dois retomaram as operações desde então.
As usinas nucleares forneciam 30% da eletricidade japonesa. Sua interdição causou uma escassez energética nacional.
Segundo a Associação Geotérmica Internacional, o Japão tem a terceira maior reserva de energia geotérmica do mundo, atrás dos EUA e da Indonésia, mas ocupa apenas a oitava colocação em termos de produção.
O governo japonês diz que pretende triplicar o uso de energias renováveis, inclusive a geotérmica, até 2030.
Neste ano, o governo destinou 9 bilhões de ienes (US$ 115 milhões) para levantamentos geotérmicos e solicitou 7,5 bilhões de ienes para continuar o trabalho em 2013. Reservou também 6 bilhões de ienes para um programa de ajuda a desenvolvedores de energia geotérmica e está pedindo 9 bilhões adicionais para prorrogar essa iniciativa.
A primeira usina geotérmica japonesa começou a funcionar em 1966, numa região próxima a Yuzawa.
Há, atualmente, 17 usinas geotérmicas no país, mas desde 1974 a construção de novas unidades está suspensa, devido a preocupações ambientais.
As usinas geotérmicas geram 535 megawatts, ou 0,2% do total nacional. Mas seu potencial é enorme: mais de 20 gigawatts de energia geotérmica poderiam ser produzidos no Japão, segundo um relatório governamental.
"Ao contrário das energias solar ou eólica, que dependem das condições climáticas, a energia geotérmica é bastante consistente e estável em termos de produção", disse Keiichi Sakaguchi, chefe do grupo de pesquisas geotérmicas do Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Industriais Avançadas.
Quase 80% das reservas geotérmicas japonesas ficam em áreas tombadas como monumentos ou parques nacionais.
Em março, o governo suspendeu a proibição de novas usinas geotérmicas nesses locais, o que pode resultar em cinco projetos em monumentos e parques nacionais.
"Muitos moradores da cidade, inclusive eu, apoiam o desenvolvimento da energia geotérmica. Ela nos diferencia dos municípios vizinhos", disse Shoji Sato, 77, presidente da ONG Conselho de Facilitação do Desenvolvimento Geotérmico da Cidade de Yuzawa.
Sato admite que os operadores de pousadas em Oyasu estão "um pouco nervosos" com o risco de perderem suas águas termais.
A empresa petrolífera japonesa Idemitsu Kosan é um dos desenvolvedores desse projeto, e seus representantes já se reuniram com líderes comunitários para explicar os planos.
A Idemitsu quer perfurar um poço exploratório de mais de 1.500 metros para testar o volume e a temperatura das águas termais e dos reservatórios de vapor.
Outro grande projeto geotérmico está previsto para a Prefeitura (província) de Fukushima. Lá, grupos locais de "onsens" ainda estão avaliando a situação, e o levantamento técnico não foi iniciado.
Sakaguchi disse que projetos geotérmicos fora do Japão já causaram o esgotamento de duas fontes termais, mas que "a tecnologia para detectar movimentos subterrâneos e a tecnologia de simulação realmente melhoraram nas últimas duas décadas, então o risco é muito menor".
O desenvolvimento de uma usina geotérmica geralmente leva 20 anos, inclusive por causa da demora em obter a confiança e a cooperação dos locais, segundo Sakaguchi.
Ito, do Tarobee Ryokan, está preocupado. "Parece que há algum risco envolvido", disse. "Nada é um negócio fechado."

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/1179578-japao-investe-em-energia-geotermica.shtml

domingo, 11 de novembro de 2012

África: Os diamantes de sangue


Os diamantes são originários de áreas controladas por forças ou facões de oposição aos governos legítimos e reconhecidos, e são utilizados para financiar a ação militar em oposição aos governos - Tornar-se qualquer caso de 10-15% do consumo mundial de multibilliões de  US dólar NO sector diamantífero.  Enquanto que alguns do dinheiro proveniente de tráfico de diamantes é utilizado para sustentar as operações (intervenções armadas. Insurreições, operações terroristas), um montante substancial dos lucros são encaminhados para as contas bancárias dos criminosos transnacionais, para corromper funcionários do governo, forças rebeldes e uma série de outros atores.
A África tem pagado um preço muito alto para as guerras sobre diamantes e o crime e   ganância que os sustentam. Milhões de africanos morreram de conflitos relacionados com diamantes e  existem milhões de deslocados.  Mas o comércio sujo estende - se muito para além da costa de África.  Existe uma forte evidência de que al-Qaeda e do Hezbollah   obtiveram milhões de dólares em diamantes ilegais através de conexões libanêsas na Serra Leoa e da DRC. Os diamantes são uma mercadoria ideal para grupos terroristas, pois é fácil de trocá-los por dinheiro, e são difíceis de detectar por organizações responsáveis pela aplicação da lei.
Exploração de outros recursos naturais como o ouro, urânio, cobre, cobalto, bauxita, e madeira é outro crime transnacional que tem perpetuado conflito Africano em vários estados, principalmente da RDC. Fundos provenientes destes recursos naturais enchem os bolsos dos gananciosos e financiam os atos terroristas e de guerras de facões armadas. Poucos na RDC são deixados intocados pelas hostilidades e danos ao meio ambiente.
Em África   as guerras sangrentas para aquisição  de diamantes e outros recursos naturais pode não parecem ter grande relevância para os militares E.U. e de segurança nacional. De fato, o oposto é verdadeiro. O crime transnacional, a violência e os conflitos em África ameaçam a estabilidade em todo o continente e acabará por ter conseqüências econômicas ou militares para o mundo em geral. Em África do aspeto político e econômico as mazelas sociais são enormes e o crime transnacional  torna -as piores. Durante uma visita a quatro países da África Ocidental, o Primeiro-Ministro Britânico enfatizou a necessidade de países desenvolvidos  investirem na segurança e prosperidade econômica das democracias em África. O ilícito de drogas, terrorismo, extremismo a emanar de "Estados falhados, ditaduras, trazem o conflito e caos nas zonas ricas em minerais e diamantes da África são um ímã para predadores, terroristas, e outros transnacionais de criminosos. A intervenção dos E.U. para acabar com o Terrorismo contra cidadãos e interesses em África poderá ser  na mesma forma  do Afeganistão. Da mesma forma que os grupos terroristas encontram porto seguro na Somália e no Sudão, esses mesmos grupos podem migrar para outros estados do continente Africano.   
Rebeldes da Serra Leoa, combatentes da Libéria, e os mercenários de Burkina Faso lançaram ataques em Serra Leoa para derrubar o governmeno. O grupo rebelde, conhecido como a Frente Unida Revolucionária (RUF), iniciou uma campanha de morte e destruição contra civis inocentes. Centenas de milhares de refugiados fugiram para países vizinhos e milhares de crianças foram raptadas e obrigadas a servir como soldados. A RUF provocou torturas, massacres, mutilações e outras atrocidades como um meio de minar a confiança no governo . Dentro de um ano, a RUF tinha tomado o controlo das principais minas de diamantes na  parte sudeste do país. Como tantas insurreições, o conflito em Serra Leoa foi proclamado como uma revolta para trazer um fim a um regime corrupto. O movimento evoluiu para uma auto-sustentação criminosa. Líderes da RUF enriqueceram-se e trocar diamantes por armas e equipamento durante a guerra civil.
 
Até Março de 1995, a RUF forças capturou a maior parte das minas no país, mas o exército de Serra Leoa foi capaz de parar mais avanços e manter a capital com a assistência de paz da Nigéria e Ghana. A RUF assinou um acordo de paz com o governo em novembro de 1996. Militares dissidentes derrubaram o governo em 1997 e formaram uma aliança com o RUF. Nigéria, Costa do Marfim, Guiné, Gana e - os membros da Comunidade Econômica dos Estados Africano Ocidental (CEDEAO) – deram abertura diplomática para o fim do conflito. A Organização das Nações Unidas apoiou a abordagem não-violenta e transferências de armas proibidas para a Serra Leoa.
Impaciente com o ritmo das negociações, a Nigéria levou um bom contragolpe, em Fevereiro de 1998 e do Conselho de Segurança da ONU estabeleceu a Missão de Observadores das Nações Unidas na Serra Leoa (UNAMSIL). No ano seguinte, a Frente Unida Revolucionária de Lomé e de Governo assinaram acordo de paz. No entanto, a RUF rapidamente violou os vários termos do acordo. O grupo rebelde armado manteve e continuou a sua luta pelo controlo dos diamantes. Até os primeiros meses de 2000, violentos confrontos com as tropas governamentais e atrocidades contra civis estavam em ascensão. Além disso, a Frente Unida Revolucionária capturou como reféns várias centenas de capacetes azuis. Em Maio de 2000, a Grã-Bretanha destacou unidades militares para a Serra Leoa para restabelecer a ordem em Freetown e evacuar os seus cidadãos e outros estrangeiros. Embora a segurança dos cidadãos britânicos e estrangeiros tenham sido a principal razão para a intervenção militar, da Grã-Bretanha, os laços históricos com a ex-colônia  ajudou a estabilizar o país e deu início a um programa de treinamento para policiais e forças militares indígenas. Os E.U. apoiaram a manutenção da paz da ONU com esforços através do envio de equipamento militar e equipas de Forças Especiais e formadores para a Nigéria e Gana. Esta iniciativa,  Operação Socorro,  reforçou a capacidade da Nigéria e Gana paz para proporcionar segurança, desarmar forças rebeldes, e facilitar o repatriamento de refugiados.
Em Setembro de 2001, os rebeldes concordaram em um cessar-fogo, mas com uma paz duradoura  longe. A liderança do governo nacional mudou cinco vezes nos últimos 11 anos. Tal como nos Bálcãs, a paz trouxe um fim ao conflito violento, mas uma paz de longo prazo baseado no Estado de direito, está muito distante.
Os recentes conflitos políticos e étnicos na República Democrática do Congo remontam a 1994, quando combates no vizinho Ruanda e Burundi forçou várias centenas de milhares de refugiados no Zaire. A nova demografia do leste do Congo contribuiu para a contenda étnica. Uma guerra civil eclodiu em 1996.Em menos de um ano, o movimento rebelde apoiado por Angola, Ruanda, Uganda e derrubou o governo no poder e realinhou a distribuição dos recursos naturais na o país Depois dos exércitos estrangeiros estabelecerem uma posição firme na DRE, que se aproveitou da fraqueza governo congolês e consolidou seu controle sobre os depósitos minerais e outros recursos.
Em Agosto de 1998, - militantes Congolesa apoiados pelo Ruanda e Uganda mergulharam o país noutra guerra civil. Angola, Namíbia, Zimbábue, Chade, Sudão e responderam à crise fornecendo tropas e de ajuda à RDC. Para complicar ainda mais o conflito, foi a presença de rebeldes do Ruanda, Uganda e Burundi. Estes grupos, que operam a partir de bases no Leste do Congo, freqüentemente atacam civis e as forças governamentais em seus respectivos países. Um relatório da Human Rights Watch concluiu que rebeldes e forças governamentais são os responsáveis pelos milhares de civis mortos, violentadas, torturados, raptados.
O Presidente da Zâmbia tentou pôr fim à carnificina em 1999, quando ele convidou os principais combatentes na guerra para uma conferência de paz de Lusaka, Zâmbia. O Acordo de Lusaka   apelou para um cessar-fogo imediato, a retirada das tropas estrangeiras, exceto paz e uma força de paz da ONU sobre 5.500 tropas. Ruanda e Uganda permaneceram em partes da República Democrática do Congo para proteger as suas populações a partir de ataques guerrilheiros, mas igual, e talvez mais importante motivação para a sua ocupação era para controlar os minerais, agricultura e madeira no país.  
Um relatório publicado pela ONU, em Abril de 2001, registrou que a RDC foi "vítima de massacres em escala e da pilhagem sistemática e sistêmica exploração dos recursos naturais." O relatório diz que os comandantes militares de vários países, por diferentes razões,   continuaram a necessitar deste conflito pela sua natureza lucrativa e temporariamente para resolver alguns problemas internos nesses países, bem como permitir o acesso à riqueza. Eles perceberam que a guerra tem a capacidade para sustentar a si mesmo, e por isso foram criadas e protegidas as redes criminosas que são susceptíveis de se assumir plenamente em  todas as tropas estrangeiras decidam a deixar a República Democrática do Congo.  
Em fevereiro de 2002, os combatentes armados não tenham cumprido todas as disposições descritas no Acordo de Lusaca. Uganda e Ruanda ainda ocupam leste do Congo e violentos confrontos entre diferentes grupos armados têm aumentado nos últimos meses. Menos de 4.000 capacetes azuis estão no terreno e milhares são necessários mais. Com tantos elementos criminosos e corruptos, os saques   proveito dos recursos naturais da República Democrática do Congo, o incentivo econômico para manter conflito e caos é maior do que o desejo de estabelecer o Estado de direito e manter a paz. A violência e a anarquia na República Democrática do Congo continua a ameaçar a estabilidade de pelo menos dez países que partilham uma fronteira comum com o gigante nação. 

Fonte: http://pedrothiagogeografia.blogspot.com.br/

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

AFINAL, QUAL O PAPEL QUE O MUNICÍPIO POD TER NA SEGURANÇA PÚBLICA?



As eleições municipais acabam de acontecer e diversos jornais noticiam como, para a maioria dos eleitores, a segurança pública passou a ser uma de suas principais preocupações, superando temas que, tradicionalmente, ocupavam esse lugar, tais como saúde, educação e pobreza. Mas será mesmo que a prefeitura possui função na área de segurança pública?
A Constituição Federal, em seu art. 144, estabelece que “a segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: polícia federal; polícia rodoviária federal; polícia ferroviária federal; polícias civis; polícias militares e corpos de bombeiros militares”. Ou seja, lendo apenas a nossa constituição, ficamos com a impressão de que a segurança pública é um problema de polícia. Então, isso equivale a dizer que apenas as polícias possuem competência para lidar com os problemas do crime e da insegurança? Será que os municípios nada podem fazer em termos de prevenção ao crime?

A resposta a essas perguntas é um sonoro não. Inclusive, estudos recentes demonstram que as iniciativas capazes de viabilizar uma redução duradoura tanto das taxas de crime e como do sentimento de insegurança demandam, além de investimento nas/das polícias, envolvimento direto do executivo estadual e municipal na execução das políticas de prevenção e repressão ao crime. Então, com a proximidade das eleições municipais, cumpre destacar qual é o papel que as prefeituras podem ter nessa área.
Para estruturar a sua intervenção na seara da segurança pública, o município deve compreender qual é a dinâmica da criminalidade na cidade, pois, apenas entendendo que fatores estão relacionados ao crime, é que se torna possível pensar em que ações a serem executadas pela prefeitura para diminuir a sua ocorrência. Quando o executivo municipal não possui em seus quadros funcionários especializados para a execução de atividades como essa, é comum ele recorrer à consultoria de algum centro de pesquisa que, geralmente, realiza esse estudo sob encomenda. Minas Gerais, Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul são estados que possuem centros de pesquisa especializados na realização de estudos para as prefeituras que desejam investir na seara da segurança pública.
Uma vez encerrado o diagnóstico, esse é utilizado como base para a elaboração de um Plano Municipal de Segurança Pública, cujas ações podem ser operacionalizadas por uma Secretaria Municipal de Segurança Pública ou, até mesmo, por uma Coordenadoria de Ordem Pública. De maneira geral, a criação de instâncias como essas tem como objetivo viabilizar o planejamento, implementação, monitoramento e avaliação de ações, projetos e programas que tenham como objetivo a prevenção do crime e a redução do sentimento de insegurança no âmbito municipal.
No caso de pequenos municípios, que não dispõem de orçamento suficiente para elaborar um diagnóstico e um plano de segurança pública, que não possuem condições de constituir e manter a estrutura administrativa de uma Secretaria/Coordenadoria Municipal de Segurança Pública, a prefeitura também pode investir nessa seara. Uma forma de realizar tal empreendimento é a partir da constituição de canais de comunicação entre a população e as agências responsáveis pelo provimento da segurança pública que atuam no nível local.  Trata-se dos Conselhos Comunitários de Segurança Pública (Consep´s), que permitem à população discutir os principais problemas que causam insegurança no bairro ou na cidade. Esse canal é importante ainda por viabilizar a troca de informações entre as polícias e os residentes na área sobre a dinâmica do crime e da violência. Além disso, como as reuniões dessas instâncias devem ser mensais, sendo sempre iniciadas por uma espécie de prestação de contas dos desdobramentos da reunião anterior, à medida que as organizações demonstram a sua capacidade em dar respostas aos problemas apresentados pela população, é bem provável que a população aumente a sua confiança no trabalho das polícias.
As prefeituras podem atuar também no sentido de instituir instâncias que viabilizem o desenvolvimento de ações integradas de prevenção e repressão ao crime. Trata-se dos Gabinetes de Gestão Integrada (GGI). Com isso, as polícias, o judiciário, o Ministério Público, o sistema de cumprimento de penas privativas de liberdade e medidas sócio-educativas podem, em conjunto: (1) discutir a dinâmica da criminalidade; (2) distribuir a responsabilidade de cada uma das organizações no gerenciamento do fenômeno, (3) elaborando planos de ação integrados, que ao racionalizar os esforços, maximizam os resultados. Por fim, o GGI permite que tais organizações (4) avaliem os êxitos e os fracassos dos planos de ação executados, reformulando estratégias e definindo novas intervenções.
A guarda municipal é outro exemplo de ação que o município pode ter na seara da segurança pública. Apesar de ela ter a função de proteção do patrimônio público, sua presença tende a evitar o cometimento de crimes, por ser constituída de indivíduos uniformizados. E, pelo mesmo motivo, aumentam a sensação de segurança do cidadão que passa pela via pública e se sente protegido com a presença de tal profissional. Destaca-se também a possibilidade de as guardas municipais fazerem uso das imagens geradas através do sistema de vigilância eletrônica, orientando a sua ação tanto em termos de prevenção de crimes quanto no que diz respeito à repressão de atos de vandalismo e de violências nas escolas.
Por fim, mas não menos importante, a prefeitura pode contribuir para o desenvolvimento de políticas de prevenção ao crime que tenham como público alvo as crianças e os adolescentes. Neste ponto, destacam-se as iniciativas que visam (1) o entendimento dos condicionantes da violência nas escolas, para a elaboração de ações que visem a sua redução; (2) a operacionalização de programas de profissionalização e lazer, que tenham como objetivo ocupar os jovens no período extraclasse evitando, dessa forma, o seu envolvimento com atividades ilícitas; (3) a manutenção e supervisão de programas direcionados aos menores infratores que receberam medidas sócio-educativas de liberdade assistida e de prestação de serviços à comunidade, de maneira a diminuir a probabilidade de eles cometerem um novo crime quando do fim da execução dessas medidas.
Essas são apenas algumas das iniciativas que o município pode desenvolver na seara da segurança pública. Contudo, é imprescindível que o executivo municipal tenha uma dimensão exata de como iniciativas dessa natureza podem contribuir para a redução do crime, o aumento da sensação de segurança e, por conseguinte, a melhoria da qualidade de vida na localidade. Assim, cabe a cada um de nós cobrar do seu candidato a prefeito a realização de medidas como as aqui expostas para que manchetes como “Brasil tem uma assassinato a cada 10 minutos, diz Ministério da Saúde” não sejam tão comuns em nossos jornais.

Ludmila Ribeiro, professora do Departamento de Sociologia e Antropologia e pesquisadora do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da Universidade Federal de Minas Gerais, é associada do Fórum Brasileiro de Segurança Pública

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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

VAZAMENTO DE URÂNIO EM CAETITÉ



Na última quinta-feira, dezoito de outubro, ocorreu em Caetité o vazamento de mais de quatrocentos quilos de urânio, as dimensões da gravidade dos impactos é imensurável tanto para o meio ambiente quanto para a saúde dos trabalhadores. O fato faz parte de uma série de acidentes que tem se tornado rotina dentro da empresa e é uma das grandes preocupaçãos principalmente para os mais de quinhentos operários, entre efetivos e terceirizados que diariamente são expostos a diversos riscos. O medo de ir trabalhar tem sido constante para essas pessoas que nunca sabem como voltarão para suas casas. Frente à situação de insegurança, fruto da negligência e descaso do Estado com a atividade nuclear, para muitos funcionários sair para o trabalho na INB tem significado colocar as suas vidas em risco.
A URA/Caetité
Descoberta em 1976, a mina de Caetité é a maior mina de urânio a céu aberto da América Latina, numa das várias ocorrências localizadas numa faixa com cerca de 80 km de comprimento por 30 a 50 km de largura. Localizada a 40 km da sede do município, o complexo instalado produz um pó do mineral, conhecido por yellowcake, matéria-prima para produção do combustível nuclear. A mina é operada pela INB (Indústrias Nucleares do Brasil) que iniciou a fase de exploração a partir de janeiro do ano 2000.
Relatório da Plataforma DHESCA apresenta lista de acidentes registrados na URA/Caetité
O último acidente ocorrido na URA/Caetité não é um fato isolado e faz parte de um conjunto de falhas na unidade de Caetité. No Relatório da Plataforma DHESCA do ano de 2011 – Missão de Caetité estão listados alguns dos principais e mais graves acidentes ocorridos dentro da unidade em Caetité:
- Em abril de 2000 logo nos primeiros 4 meses de funcionamento da mina, 5 milhões de litros de licor de urânio transbordaram das bacias de sedimentação e vazaram para o meio ambiente. A INB só tornou o fato público 6 meses após o ocorrido;
- Em abril de 2002, um novo vazamento na chamada “área 170”, o qual teria sido mantido em segredo pela INB, havendo possível contaminação do meio ambiente;
- Entre janeiro e junho de 2004, a bacia de barramento de “finos” transbordou sete vezes, liberando efluentes líquidos com concentração de urânio-238, tório 232 e rádio-226 no meio ambiente, no leito do Riacho das Vacas (essa região é bastante habitada e por muitos praticada a agricultura de subsistência e pecuária. Impactos imensuráveis na vida dessas populações);
- Em 2006, o rompimento em uma das mantas da bacia de licor uranífero, provocou a paralisação das atividades por cerca de 60 dias;
- Em junho de 2008, houve denúncias de vazamentos dos tanques de lixiviação;
- Em 2008 amostras de agua coletadas pelo Greenpece detectam altos níveis de contaminação por urânio em poços usados pelas populações ao redor da área de influencia da mina;
- Em 28 de outubro de 2009, denúncias das entidades davam conta de um novo caso de vazamento nas dependências da URA/INB, de cerca de 30 mil litros de licor de urânio, com transbordamento de material radioativo;
- Em 14 de novembro do mesmo ano, outro acidente teria ocorrido na URA-INB, que, segundo as denúncias, teria levado a INB à suspender suas atividades e enviar os funcionários para casa. Moradores do entorno da mina afirmaram ter ouvido forte estrondo por volta das 20h da noite e suspeitam ter havido na ocasião algum tipo de desmoronamento ou acomodação do subsolo;
- Em 2 de maio de 2010, houve o rompimento de uma tubulação na Indústrias Nucleares do Brasil (INB), levando 900 litros de licor de urânio para o solo, na área de extração e beneficiamento deste minério;
- Em 15 de maio de 2011 a INB tenta entrar na cidade com uma carga de mais de 90 toneladas de material radioativo vindo de São Paulo. Imediatamente mais de 3000 pessoas tomaram as ruas da cidade e impediram a passagem do material;
- Ainda em 2011 uma visita técnica realizada durante FPI (Fiscalização Preventiva Integrada) detectou falhas no processo de reentaboramento do material radioativo vindo de São Paulo com urânio exposto no ambiente externo contaminando o meio ambiente e expondo os trabalhadores em situações de risco. Essa era uma atividade complexa, que exigia mão de obra qualificada, no entanto a operação foi realizada por trabalhadores terceirizados.
Mina de urânio em Caetité é uma bomba-relógio
Há tempos as organizações sociais vêm dando o alerta e anunciando que essa insistência com o sucateado programa nuclear (sucateado por que todo equipamento utilizado é de segunda mão, pois já foram usados e muitos já haviam sido descartados em Poços de Caldas e na Alemanha), ainda vai resultar em tragédias ainda mais graves do que as que já ocorreram. A conclusão que se tira frente a todo o descaso com a exploração de urânio parece ser a ideia de precarizar a tal ponto, que o Estado seja “obrigado” a entregar o setor a iniciativa privada. A mina do Ceará já caminha para um processo de privatização ainda na primeira etapa do ciclo de produção do minério, com exploração do fosfato, minério comumente agregado ao urânio, por uma empresa privada.
Do jeito que as coisas vão, não é de surpreender que em um curto espaço de tempo novos acidentes venham acontecer em proporções mais graves ainda por que a mina de urânio de Caetité é uma grande bomba relógio programada para explodir de tempos em tempos e as vítimas nunca aparecem de imediato já que os efeitos são cumulativos no organismo e podem num espaço pequeno de tempo surgirem as neoplasias, muito comuns nas comunidades próximo a mina.
Por Gilmar Ferreira dos Santos
Agente da CPT – Comissão Pastoral da Terra – Equipe sul/sudoeste da Bahia
EcoDebate, 24/10/2012