sexta-feira, 13 de junho de 2008

IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA TERRA

Desde que o curso de História Natural foi extinto, em 1970, seus conteúdos em Geociências passaram a ser ministrados apenas nos cursos de Geologia, que foram criados em 1963 visando à formação de profissionais para o mapeamento geológico básico e para a busca dos recursos minerais tão necessários. O ensino das Geociências, por sua vez, não era preocupação destes cursos, ao mesmo tempo em que a educação no Brasil não se preocupou em manter os conteúdos em Geociências na formação dos professores
de Ciências. O resultado foi tanto a falta de noções básicas do funcionamento do planeta por parte da população que estudou nas últimas décadas, justamente quando houve os grandes progressos nas Ciências da Terra, como também a falta de reconhecimento de sua importância na cultura geral, até mesmo por parte dos especialistas em ensino. Daí veio a idéia simplificada verificada em geral de que ecologia refere-se à vida, e não à natureza completa, ou seja, vida e ambiente físico que a gerou, modificou, foi modificado
por ela e continua sustentando-a. Por outro lado, os graves problemas sócio-ambientais originados pela atuação desastrada da sociedade nas suas atividades de ocupação e utilização do meio físico e dos
materiais naturais começam a ser detectados, avaliados e divulgados, despertando naturalmente o interesse da população por temas geocientíficos. Daí o aumento desse tipo de tema em revistas, jornais, emissões de TV nacionais ou estrangeiras, além do aumento das visitas a parques e museus com temática ecológica e particularmente geológica.
O que ocorre de concreto no ensino, com a falta de ocasião para desenvolvimento integral das Geociências (origem e evolução da Terra, formação de seus materiais e de seus ambientes, condições de provável origem da vida, registro sedimentar da história geológica da vida e dos processos de interferência dos processos biológicos no planeta e dos processos geológicos na evolução da vida, condições de concentração dos recursos naturais – minerais, hídricos e energéticos e sua possibilidade de renovação, condições sustentáveis de utilização dos recursos etc.) é que os alunos são privados do conhecimento necessário para adquirir a visão de funcionamento global e interdependente da natureza, correndo o risco de desenvolverem, ao contrário do ideal, uma visão imediatista e utilitária da natureza, enquanto meio físico que proporciona soluções às necessidades modernas humanas de materiais e energia, e que também proporciona problemas de degradação, que não são compreendidos como respostas naturais às ações de interferência nos ciclos naturais.
Esta fragmentação da Geologia e das Geociências em tópicos eventualmente tratados em determinados momentos do desenvolvimento das disciplinas mencionadas não contribui para a formação de uma noção do ciclo global da natureza, da cadeia de causas e conseqüências na sucessão de eventos naturais, e da formação conseqüente de espírito crítico competente para avaliar riscos e benefício da atividade humana, cotidianamente agredindo a natureza, impedindo o curso natural da dinâmica geológica/geoquímica com os resultados de degradação ambiental conhecidos em grande parte e para julgar como deve ser a ocupação e o uso do planeta e seus materiais, o que, em verdade, está determinando o futuro da vida na Terra (Wilson, 2002; Mackenzie, 1998; Weiner, 1992; Campos, 1997; Craig et al., 1996; Chassot e Campos, 2000).
Coloca-se a questão: Como pode um cidadão ser crítico, interpretar, fazer julgamentos, atuar na sociedade (que basicamente ocupa o ambiente e usa seus materiais e fenômenos), encontrando-se privado de conhecimentos sobre o funcionamento e a organização, a gênese e a evolução do planeta e de
seus ambientes e materiais, sobre as interações físicas, químicas e bioquímicas das interferências humanas na natureza? A resposta é: não pode. O tratamento ao estudo do ambiente dado no ensino atual no Brasil (ambiente no sentido amplo: planeta Terra e sua superfície, ocupada pela sociedade)
não é suficiente para formar nos educandos nem a compreensão da Terra como um sistema, nem a sensibilidade necessária para enfrentar os desafios impostos pela degradação ambiental já verificada e para contribuir para o desenvolvimento sustentável, o que pressupõe mudança de comportamento.

Arrtigo da Prof Drª Maria Cristina Motta de Toledo
Fonte: http://geologiausp.igc.usp.br//downloads/geoindex650.pdf

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